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Morre aos 92 anos E.O. Wilson, pioneiro da biologia evolutiva

28/12/2021

O cientista norte-americano E.O. Wilson, considerado o “herdeiro natural de Darwin”, morreu aos 92 anos no domingo, 26, em Massachusetts, nos Estados Unidos, anunciou na segunda-feira, 27, a fundação que leva seu nome. Edward Osborne Wilson lecionou na Universidade de Harvard por mais de quatro décadas e escreveu dezenas de livros. Dois deles renderam-lhe prêmios Pulitzer: o primeiro, em 1979, por On Human Nature; o segundo, em 1991, por The Ants.

Wilson era famoso por seu comportamento tímido e gentil, mas escondia uma determinação feroz. Ele mesmo admitiu que foi “despertado pela anfetamina da ambição”.

Quando começou sua carreira em biologia evolutiva na década de 1950, o estudo de animais e plantas parecia a muitos cientistas um hobby antiquado e obsoleto. Ele, então, se tornou pioneiro em novos campos de pesquisa.

Como especialista em insetos, estudou a evolução do comportamento, explorando como a seleção natural e outras forças poderiam produzir algo tão extraordinariamente complexo quanto uma colônia de formigas.

A revista Time destacou que ele teve “uma das grandes carreiras científicas do século XX”, lembrando de seu importante trabalho de mapeamento do comportamento social das formigas, por meio do qual mostrou que suas colônias se comunicavam por um sistema de feromônios.

À época, ele também recebeu críticas ao sugerir em um de seus livros que os humanos se comportam, em grande medida, de acordo com princípios escritos em seus genes. Nesse sentido, foi acusado de determinismo genético e de justificar as desigualdades, uma polêmica que chegou a tal ponto que, em 1978, manifestantes derramaram em sua cabeça uma jarra de água gelada durante uma conferência.

Nesta segunda-feira, o psicólogo Steven Pinker lamentou a morte do especialista em insetos, que classificou como um “grande cientista”. “Tivemos divergências em algumas coisas, mas isso não afetou sua generosidade e sua disposição para conversar”, escreveu Pinker no Twitter.

Wilson também se tornou um pioneiro no estudo da diversidade biológica, desenvolvendo uma abordagem matemática sobre os motivos de diferentes lugares terem diferentes números de espécies.

Ele era conhecido ainda por seus incansáveis pedidos para preservar os diferentes ecossistemas do planeta. “Se não agirmos rapidamente para proteger logo a biodiversidade global, perderemos a maioria das espécies que compõem a vida na Terra”, disse.

O especialista em insetos afirmava possuir “um vínculo especial” com o Parque Nacional da Gorongosa, em Moçambique, que ajudou a salvar e onde um laboratório com seu nome foi inaugurado para estudar e proteger a biodiversidade da região.

Também se destacou por propor o projeto “Half-Earth”, uma iniciativa ambiciosa que defende a preservação de metade da superfície da Terra, tanto terrestre como marítima, para evitar a extinção das espécies, inclusive a própria espécie humana. “Sei que parece radical”, admitiu Wilson, em 2016. No entanto, isso “é mais fácil de fazer do que se pensa”, acrescentou à época. “Quem somos nós, que somos apenas uma espécie, para acabar com a maioria das espécies restantes que vivem conosco neste planeta em função de nossas necessidades egoístas?”, questionou.

Autor: Redação O Estado de S. Paulo
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