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Ricardo Maurício projeta vida longa na Stock Car: ‘Aposentar só após os 50’

23/10/2021

A 9ª etapa da Stock Car, em Goiânia, com certeza ficou marcada na história do tricampeão da categoria Ricardo Maurício. O piloto não só conquistou o máximo de pontos em uma fase, com pole position e vencendo as duas corridas, como também fez a melhor volta da pista e teve a vitória mais apertada da história do campeonato na segunda prova do dia.

Com a “etapa perfeita”, Ricardinho Maurício, como é conhecido carinhosamente pelos amantes da Stock Car, entrou de vez na briga pelo campeonato, pulando para o quarto lugar na classificação geral. O resultado parece ter dado mais ânimo para o piloto de 42 anos continuar fazendo história na categoria. Ele está longe de parar nas pistas.

“A gente sempre sonha em próximos títulos, próximas vitórias, é indiscutível, porque se um dia isso acabar, é melhor parar”, diz o piloto, em entrevista ao Estadão. “Eu espero me aposentar depois dos 50 anos, mas lógico que quero ser competitivo até lá. O mais importante é a gente estar feliz no que está fazendo, mas também ser competitivo nas pistas.”

Ricardinho, que acabou de renovar por mais uma ano para correr pela equipe Eurofarma-RC, onde está desde 2009, também comentou sobre as emoções de dentro do carro durante a etapa dupla de Goiânia. “Foi tudo perfeito, tudo estava muito alinhado e dando certo, e é o que a gente espera que continue acontecendo”, comentou.

Confira a entrevista completa com o piloto, onde ele fala sobre a etapa perfeita, a briga pelo campeonato, a equipe ao lado de Daniel Serra dirigida pelo histórico Rosinei Meinha Campos, e ainda revela os desejos para seu futuro na Stock Car.

Como estava se sentindo no final de semana da etapa dupla de Goiânia?
Na verdade, muito bem! No automobilismo tem que tudo encaixar no final de semana. Tem muitos fatores, a gente depende de uma máquina, depende dos integrantes da nossa equipe e do piloto também. Então tudo tem que estar numa sinergia boa para as coisas fluírem bem. Foi um final de semana muito bom, Stock é tudo muito rápido, muito dinâmico. No primeiro treino já senti o carro bem e eu era o segundo mais rápido da pista. Era uma incógnita o que ia acontecer no domingo, que era uma pista totalmente diferente, um circuito oval, onde a gente só foi treinar e classificar no domingo, mas a gente já estava muito bem. Chegou no sábado, meu carro deu problema e quebrou. Eu consegui passar para o Q2, mas fiquei em décimo quinto. Nas corridas, consegui chegar em 10º na primeira e quando inverteu grid a gente sabia que tinha um carro competitivo e conseguimos vencer no sábado. Aí começou tudo do zero no domingo, mas foi tudo encaixando, eu consegui economizar pushes em alguns momentos, na penúltima volta eu podia usar, mas não usei, segurei. Na última volta o Casagrande me ajudou bastante porque ele fez um traçado bem defensivo em cima do Thiago Camilo, e fez com o que Thiago ficasse mais lento. Eu era o terceiro, ninguém estava esperando eu colocar por fora e eu acabei por muito pouco passando o Thiago na linha de chegada. Foi um final de semana perfeito, Goiânia pra mim foi muito bom esse ano, das 6 corridas eu ganhei 4, uma no começo do ano e três agora, mas o domingo em si foi ótimo.

A chegada da segunda prova foi a mais apertada da história da Stock Car. Como foi a sua visão de dentro do carro?
É muito louco, porque eu estava cruzando a linha de chegada e não sabia se tinha dado bandeirada, porque o pessoal fala no rádio ‘última volta’, mas sei lá, vai saber se não deram e fica aquele sentimento. Eu só estava olhando para o lado, olhava para o Thiago e olhava para a linha de chegada, para a faixa quadriculada no asfalto. Eu não olhava para o bandeirinha lá em cima, se pegar minha câmera on board eu olhava para direita e para frente, para direita e para frente. Eu vi que tinha ganho a corrida ali, mas o problema é que quando a gente ganha a equipe vai e comemora entre eles e esquecem do piloto. Quando eu olhei para frente e não vi os bandeirinhas agitando a bandeira, eu pensei: pô, acabou ou não acabou a corrida. Eu não comemorei dentro do carro, porque eu fiquei na dúvida, eu vi que tinha passado na frente do Thiago, mas não vi que tinha dado bandeirada, e a equipe não falava nada. Só quando entrei na primeira curva que o pessoal entrou no rádio comemorando. Eu fiquei meio assustado porque estava um silêncio no rádio e eu não tinha visto a bandeirada, mas logo depois foi até engraçado. Foi tudo perfeito, tudo estava muito alinhado e dando certo, e é o que a gente espera que continue dali em diante, porque eu caí muito no campeonato depois que tive covid-19.

Agora você está mais na briga pelo título, mesmo depois de etapas perdidas pela covid-19. Como foi voltar?
A gente acha que a gente está bem, mas eu não estava 100%, estava debilitado, cansava rápido. A doença pegou 25% do meu pulmão, eu não estava legal. Chegava no boxe muito ofegante, em Velocitta mesmo não foi um fim de semana legal. Espero continuar competitivo daqui para frente.

Qual sua previsão para as últimas etapas do campeonato?
É muito difícil ter uma previsão. Nosso carro está sendo competitivo, o Daniel Serra está super forte o ano inteiro, e a gente está tendo bons resultados, faltava encaixar como foi em Goiânia. Velocitta é uma pista onde o Gabriel Casagrande anda muito bem. Ele tem uma boa vantagem em primeiro já para o Daniel, que é segundo no campeonato. Eu acredito que ele vá ficar marcando o Daniel, só que tudo depende muito, tem muita pontuação em jogo, muita coisa pode acontecer. Tem muita gente boa no grid, pegando pontos dos outros. O campeonato não está entre os 5 primeiros colocados, tem uns 10, 15, que estão andando bem, e podem encaixar uma boa colocação, uma boa estratégia, então é muito difícil ter uma previsão. Só temos que torcer para que nosso carro continue bem e tudo encaixe para continuarmos na briga.

Você e seu companheiro de equipe estão na briga pelo título, em busca do que seria o tetracampeonato para um dos dois. Como é a interação com o Daniel Serra na equipe e na disputa pelo campeonato?
É muito legal. O Daniel é um profissional extremamente bacana, um cara focado, é muito bom ter um companheiro de equipe forte como ele, porque acaba um puxando o outro o tempo inteiro. A gente divide dados, trabalha como equipe, é sempre bom ter um companheiro de equipe forte para puxar a equipe. Eu tive grandes companheiros de equipe, com grandes histórias por trás, e a gente tem que respeitar a carreira de cada um, admirar o que cada um já fez no automobilismo e um dar força para o outro, um puxar o outro para que a gente, quem sabe logo mais, levar o quarto caneco. O campeonato está disputado e eu acho que o mais importante de tudo é a gente estar sempre competitivo, existem muitas coisas no meio de uma temporada que eu e Daniel temos que agradecer muito pela equipe que a gente tem, pelo patrocinador que a gente tem, porque a equipe do Meinha, dos mecânicos, eles trabalham com uma vontade de vencer que ajuda muito. É um trabalho bacana, conjunto e que eu espero que seja por muito tempo.

Como é trabalhar com o Rosinei Campos, o ‘Meinha’, que esteve desde a primeira corrida da Stock Car e segue até hoje na categoria?
Eu estou desde 2009 com o Meinha, e é fantástico trabalhar com ele, super comprometido no que ele faz, não mudou em nada nesse tempo todo que trabalho com ele. Ele fica ansioso, fica nervoso, com frio na barriga, não dorme direito em fim de semana de corrida, às vezes precisa até tomar uma tacinha de vinho para dar um sono. Ele é fantástico, muito detalhista em tudo que faz e parece um Professor Pardal, para tudo ele dá um jeito. A força de vontade que ele tem, a gana, a vontade de vencer mais títulos, mais corridas, é inacreditável, é muito gostoso de trabalhar junto.

Quais são os planos para seu futuro na Stock Car?
A gente sempre sonha em próximos títulos, próximas vitórias, é indiscutível, porque se um dia isso acabar é melhor parar. Eu estou com 42 anos, em janeiro faço 43, e o que me deixa mais motivado é olhar e ver o Rubinho Barrichello com 49 anos sendo competitivo, o Zonta com 45, o Ingo Hoffmann que na última temporada dele, com 55 anos, fez pódio, pole position, inclusive foi no mesmo ano do meu primeiro título. Eu espero me aposentar depois dos 50, mas lógico que quero ser competitivo. O mais importante é a gente estar feliz no que está fazendo, mas também estar competitivo para representar bem nossa equipe, nosso patrocinador. Cada vez estou tentando evoluir como pessoa, como profissional, como equipe e buscando novas vitórias e consequentemente, chegar mais perto do próximo título.

Autor: João Paulo dos Santos, especial para a AE
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