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Aly Muritiba conta como é o apoio de brasileiros para a campanha do Oscar

24/10/2021

Aly Muritiba pede desculpas pelo atraso de alguns minutos na entrevista. Estava no telefone com o cineasta Walter Salles. Desde que seu filme Deserto Particular foi anunciado como o representante brasileiro na briga por uma vaga na categoria filme internacional do Oscar 2022, tem sido assim.

“Não sei se é pelo fato de o filme não ser do grande eixo nem de uma grande produtora, porque é bom ou por causa da minha história, do agente penitenciário que virou cineasta, mas está rolando uma mobilização muito bonita da indústria audiovisual brasileira, de pessoas grandes, importantes, como Walter Salles, Fernando Meirelles, Rodrigo Teixeira, Andrea Barata Ribeiro, Paula Barreto, de entrarem em contato e oferecerem ajuda”, disse ele ao Estadão, por telefone.

Talvez tenha a ver também com a dificuldade que está sendo conseguir terminar um filme no Brasil atualmente. “Em um momento tão delicado como este, a gente precisa se juntar, colaborar, dar suporte um para os outros. Já há muitos querendo derrubar a gente”, comentou o cineasta.

Foi com certa surpresa que Muritiba, nascido na Bahia e radicado em Curitiba, recebeu a notícia da escolha do longa pela comissão formada pela Academia Brasileira de Cinema. “A gente acreditava que tinha potencial, mas 7 Prisioneiros, de Alexandre Moratto, vinha muito forte e é muito legal, além de ter Fernando Meirelles, Netflix, Rodrigo Santoro”, afirmou Muritiba.

Ele estava no sertão da Paraíba, onde faz pré-produção para uma série de televisão, quando recebeu a notícia. “Fiquei muito feliz e logo em seguida preocupado, porque é uma honra, mas também uma responsabilidade imensa representar o País neste momento específico do cinema brasileiro. Vou fazer o máximo para que o filme seja visto pelos membros da Academia.”

O objetivo imediato é conseguir distribuidores nos Estados Unidos e no Reino Unido, onde se concentra grande parte dos votantes da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. De preferência, uma distribuidora que esteja realmente disposta a investir na campanha. “Estou confiante em que a gente vai conseguir. Sou um homem de fé. Sou um sujeito que bate tambor”, confessou Muritiba.

Pesos pesados

O cineasta sabe que há pesos pesados na disputa. “De todos os candidatos, só vi Titane, que com certeza estará no Oscar, porque ganhou a Palma de Ouro e é muito impressionante mesmo.” Entre os outros candidatos estão o finlandês Compartment n.º 6, o iraniano Um Herói, o japonês Drive My Car e o colombiano Memória, todos premiados em Cannes. Deserto Particular participou das Giornate degli Autori – Venice Days, mostra paralela ao Festival de Veneza, de onde saiu com o prêmio de público. “Eles estiveram em festival, eu também. Eles ganharam prêmio, eu também.”

Muritiba acredita que, se conseguir fazer com que assistam ao filme, tem chances. “Na Itália, houve aplausos por dez minutos. Vi um monte de gente com o olho cheio de lágrima, que depois veio falar comigo, querendo me abraçar”, contou.

Deserto Particular é um filme de encontro entre dois Brasis, um cinzento e chuvoso e um colorido e solar, entre personagens que precisam se confinar em si mesmos, presos à maneira como foram criados ou às pressões conservadoras da sociedade. É um encontro de fricções, mas também de entendimento e de amor. “O arrebatamento que o filme provoca nas pessoas é essencial para o que está acontecendo com ele. E eu acredito que a comissão tenha levado isso em conta”, ressaltou. “A gente passou os últimos dois anos sofrendo, é um momento de muito ódio. Aí você se senta na sala de cinema depois de um ano e meio e vê pessoas sorrindo, se beijando e se gostando, se entendendo de algum modo, sendo felizes de algum modo. Isso traz alento. Essa visão otimista que o filme tem de que as coisas podem ser melhores do que estão é contagiante.”

Claro que isso não basta. Ele está preparado para dividir as tarefas da série com outros diretores e a fazer muito social na campanha para o Oscar. “Quem sabe arrumar um show da Anitta, do Caetano Veloso”, concluiu, entre risos. “Por favor, Anitta, Caetano, vamos lá!” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: Mariane Morisawa, especial para AE
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