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Complexo na antiga Fábrica da Pedra é o marco do desenvolvimento do sertão

29/01/2021
Complexo na antiga Fábrica da Pedra é o marco do desenvolvimento do sertão

O cearense Delmiro Augusto da Cruz Gouveia é considerado, por muitos, como o pioneiro da industrialização do sertão do São Francisco. Ele fundou um Núcleo Industrial no lugarejo de Pedra, na época município de Água Branca. Sob seu comando foi construída a Usina Hidrelétrica de Angiquinho, primeira hidroelétrica do Nordeste, inaugurada em 26 de janeiro de 1913. Também foi desse comerciante a ideia de construir um núcleo residencial e uma fábrica de linhas. A partir da inauguração da usina hidroelétrica e da fábrica, o Núcleo Fabril da Pedra transforma-se, segundo palavras de Plínio Cavalcanti, primeiro a escrever sobre o núcleo industrial sertanejo, numa colmeia de trabalho e ordem social. Chegou a ter quatro mil pessoas nos primeiros anos de atividades. Com o assassinato de Delmiro Gouveia, em 1917, seu sócio Lionelo Iona assume o comando da companhia. Desavenças com os herdeiros de Delmiro Gouveia afastam Lionelo Iona do comando da Companhia. Noé Gouveia e as irmãs, Noêmia e Maria Gouveia, representadas por respectivos esposos, passam a comandar os destinos da empresa.

A concorrência desleal da Machine Cottons, empresa estrangeira concorrente da fábrica de linhas Estrela, foi intensificada nos anos de 1925 e 1926 levando a indústria de linhas a uma crise econômica. Adicione as dificuldades vividas pelas indústrias têxteis brasileiras que enfrentavam a concorrência das empresas estrangeiras e o baixo preço dos produtos importados. Não suportando as dificuldades e sem tino para os negócios, os filhos de Delmiro Gouveia vendem o complexo industrial e comercial fundado no sertão alagoano no início do século XIX.

Em 1927, assumem o comando dos negócios da Companhia Agro Fabril Mercantil o grupo Menezes Irmãos & Cia., tradicional na indústria têxtil pernambucana. Foi na gestão dos irmãos Luiz e Vicente Lacerda de Menezes firmado um acordo com a Machine Cottons, para a fábrica encerrar a produção de linhas e entregar as máquinas a sua principal concorrente. Este fato ocasionou em um dos mais trágicos acontecimentos da indústria sertaneja, que teve no início de 1930: parte do maquinário foi quebrado e jogado penhasco abaixo na cachoeira de Paulo Afonso. O parque industrial é reestruturado e a fábrica passa, então, a produzir tecidos. Com a morte de Vicente Lacerda de Menezes, na década de 1940, seu filho, Antônio Calos de Menezes, assumiu o comando das empresas. Foi esse empresário que conduziu por mais tempo os negócios da Companhia Agro Fabril Mercantil, e da Fábrica da Pedra. A indústria sertaneja, na gestão de Antônio Carlos, se consolida como uma das principais do setor têxtil no Brasil. As dificuldades econômicas nas empresas levaram o industrial a cometer suicídio em 10 de maio de 1983.

Ameaçada de paralisar suas atividades, a fábrica é adquirida pelo empresário Ivan Botelho, em 1986. A razão social da companhia passa a ser Multifabril Nordeste S/A. Apenas oito anos sob o comando do grupo mineiro, o grupo Cataguases Leopoldina vende a indústria para o Grupo empresarial alagoano Carlos Lyra.

Quando o Grupo Carlos Lyra assumiu a empresa em 1992, a Fábrica da Pedra teve seu parque industrial modernizado, totalizando mais de 22 milhões de investimentos. Na gestão do empresário alagoano, a fábrica têxtil conquista o mercado brasileiro e sul-americano. A crise na indústria têxtil internacional traz uma série de dificuldades para a empresa. A fábrica da Pedra encerrou suas atividades em 2017, quando tinha 420 funcionários. A indústria sertaneja funcionou por mais de um século como fábrica de linhas e indústria de tecidos e confecções. Com o falecimento do empresário Carlos Lyra, coube ao seu genro, Fernando Lopes de Farias, reestruturar os negócios do grupo empresarial. Depois de resolver todas as pendências com funcionários e fornecedores, o empresário alagoano volta-se para planejar o futuro das empresas.

Após o impacto do seu fechamento, o desafio posto ao empresário Fernando Farias, foi de transformar a área localizada no centro da cidade de Delmiro Gouveia, constituída de edifícios e galpões, em novos empreendimentos. Uma decisão importante foi a de preservar os edifícios que compunham a indústria têxtil, aproveitando-os para novos empreendimentos. Em seguida, realizar estudos de viabilidade e buscar parcerias. Foi criado então, a Vila da Pedra Empreendimentos Imobiliários, que após ter projeto aprovado, firmou contrato com o Banco do Nordeste para a construção do Shopping da Vila, no município do Sertão de Alagoas. A obra iniciada com recursos próprios, R$ 3,3 milhões, será realizada em quatro fases, tendo a primeira previsão de ser inaugurada em julho deste ano. O aporte de R$ 5,7 milhões do BNB, garante o andamento das obras seguindo o cronograma previsto. Já na etapa de reformas, o projeto do Shopping gera 50 empregos diretos.

Toda área pertencente à antiga Fábrica da Pedra (terrenos, galpões, museu e residências), será transformada em um ousado projeto de desenvolvimento econômico para o sertão, especialmente para o município de Delmiro Gouveia. O empreendimento Vila da Pedra incorporou todo o patrimônio, os terrenos e os edifícios da antiga fábrica. Parte dos terrenos foi destinada para um loteamento em área privilegiada, no centro da cidade. Os lotes estão sendo comercializados, tendo uma área para comércio e outra residencial.

Nova destinação para edifícios e galpões da antiga fábrica

Os galpões da antiga Fábrica da Pedra terão nova utilização. Alguns foram alugados para terceiros. É o caso do galpão de 3.200 m², onde funcionou a confecção de calças e posteriormente depósito de algodão e poliéster. Nesse espaço foi inaugurado o Supermercado MIX, que tem ainda uma área de 1.600 m² para estacionamento de carga e descarga. Esse foi o primeiro dos empreendimentos que compõem o complexo do Shopping da Vila a ser inaugurado, gerando 105 empregos diretos. A área onde funciona o agora MIX Supermercado foi totalmente revitalizada, inclusive o símbolo da fábrica e da cidade, a chaminé, recebeu reforço estrutural, ressignificando este belo cartão postal da cidade.

O próximo empreendimento será a inauguração da Escola Santa Rita, que está sendo instalada em uma área de 1.100 m², em um dos três galpões onde funcionou a confecção de camisas, e posteriormente o setor de acabamento que era composto por alvejamento, tinturaria e estampa da fábrica. A escola manterá uma área destinada para a praça. Esse estabelecimento educacional gerará 45 empregos e tem perspectiva de atender 600 estudantes.

Já estão bastante avançadas as obras nos galpões onde funcionaram o almoxarifado e o galpão de estoque de peças e acessórios têxteis, para funcionar o DR Home Center, que será inaugurado em março. Esse, na primeira fase, funcionará em uma loja com 1.000 m². Será construído no local onde existiram os tanques de água, um galpão com 4.000 m², também para atender o Home Center. De início são mais 30 empregos diretos.

Em andamento está o mais esperado empreendimento do empresário Fernando Lopes de Farias, o Shopping da Vila, primeiro estabelecimento de gênero na região. Funcionará no edifício mais antigo da fábrica da Pedra. O Shopping funcionará no prédio onde foi setor de encarretamento, embalagem e confecção de linhas, quando de seu funcionamento em 1914, e depois de sua reestruturação pelos irmãos Menezes, preparação para tecelagem, urdideira e engomadeiras indianas, em uma área de 6.600 m². Quando concluídas as etapas seguintes, o Shopping utilizará os 8 galpões da fábrica no prédio principal, em um total de 14.000 m².

O projeto arquitetônico foi da arquiteta Humberta Farias e teve a consultoria histórica do Pesquisador Edvaldo Nascimento, estudioso da vida e obra de Delmiro Gouveia. A primeira etapa tem previsão para ser inaugurada em julho. No Shopping da Vila, funcionarão agências bancárias, cinemas, lojas e praça de alimentação.

Assim, a área onde outrora funcionou a fábrica da Pedra, com seus edifícios e terrenos, vai sendo transformada em novos empreendimentos. Para o Assessor da diretoria do Vila da Pedra Empreendimentos Imobiliários, Jorge Luiz Cavalcanti, responsável direto pela condução do projeto, o Shopping vai gerar 250 empregos diretos. O sertão alagoano, no início do século XIX, foi palco de um ciclo de industrialização. Pouco mais de um século após, a região tem crescido significativamente, especialmente o município de Delmiro Gouveia, que transformou-se em polo educacional com um Campus da Universidade Federal de Alagoas, de serviços com diversos órgãos públicos que realizam atendimento à população da região, além de ser um dos principais roteiros turísticos do Estado. Com esses novos e importantes empreendimentos, além de gerar empregos e renda, manterá viva a história do seu fundador Delmiro Augusto da Cruz Gouveia. Aliás, o primeiro grande empreendimento de Delmiro foi o Mercado do Derby, fundado por ele no Recife, o primeiro Shopping Center do Brasil. Agora, o edifício onde funcionou, por mais de um século, uma indústria símbolo da industrialização na região do sertão sediará o primeiro empreendimento do gênero no sertão do São Francisco: um shopping center, que tem como nome: Shopping da Vila, em homenagem ao núcleo urbano fundado por Delmiro Gouveia. Sem dúvida alguma, Delmiro Gouveia, Vicente e Luiz Lacerda de Menezes, Ivan Botelho e Carlos Lyra foram empreendedores que apostaram no sertão e acreditaram na sua gente. Agora, é o empresário Fernando Farias que aposta no projeto idealizado por Delmiro Gouveia, reestruturando para os tempos atuais o desenvolvimento dessa região.