Economia

Juros fecham em alta, pressionados pelo câmbio e aversão ao risco externa

26/06/2020

Os juros futuros fecharam em alta nesta sexta-feira, 26, refletindo a escalada do dólar e o mau humor externo. As taxas subiram mais pela manhã e à tarde o avanço perdeu força, em meio à desaceleração da alta do dólar, que, nas máximas chegou a encostar em R$ 5,50 mas terminou o dia em R$ 5,46. Fatores domésticos ficaram em segundo plano.

A nova onda de Covid-19 em alguns estados americanos manteve os mercados sob pressão, em meio ao risco de retrocesso no movimento de flexibilização do isolamento social, e, com isso, de demora na retomada da economia nos Estados Unidos. A busca por segurança penalizou ações e moedas emergentes ante o dólar e ainda fez caírem os juros dos Treasuries, com reflexos na curva brasileira. Os vencimentos de curto prazo se moveram lateralmente, mantido o quadro de divisão das apostas para a Selic em agosto, mas hoje com sutil avanço das expectativas de manutenção da taxa básica.

As taxas longas, que melhor captam o humor externo, chegaram a subir 17 pontos-base, mas no encerramento da sessão regular tinham ganho de menos de 10 pontos. Na mesma toada, o dólar na máxima atingiu R$ 5,4931, mas reduziu o avanço com o arrefecimento da moeda no exterior. “Temos um movimento de aversão ao risco prevalecendo, com o dólar valorizado ante emergentes e bolsas caindo, lideradas por Nova York”, afirmou o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno. “Dados de alguns estados americanos sobre o coronavírus estão apresentando piora e isso gera preocupação de que as autoridades tenham de voltar a fechar a atividade como forma de conter o avanço da doença”, disse.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou nos mesmos 2,97% do ajuste de ontem e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 5,753% para 5,82%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa em 6,81%, de 6,753%.

No Brasil, apesar da entrevista do ex-advogado da família Bolsonaro Frederick Wassef publicada na revista Veja, na qual admite que ofereceu abrigo a Fabrício Queiroz em três imóveis seus para “proteger” Flávio Bolsonaro e seu pai, o presidente Jair Bolsonaro, o ambiente político, do ponto de vista das reformas, parece menos ‘tensionado’, na avaliação de Rostagno. Ele cita a pesquisa Datafolha, segundo a qual a prisão de Queiroz não afetou a aprovação do presidente, “o que reduz o risco de impeachment”, diz.

O mercado tem observado sinais de melhora na relação do presidente com o Congresso, após a indicação de um deputado do Centrão, Fábio Faria (PSD-RN), para o Ministério das Comunicações e a escolha de um nome considerado não ideológico, o de Carlos Alberto Decotelli da Silva, para a Educação. Isso, somado à aprovação por larga margem de votos do projeto do marco legal do Saneamento Básico no Senado, alimenta a esperança de retomada da agenda de reformas no curto prazo e de ajuste fiscal após a pandemia. “O cenário político parece estar um pouco mais construtivo para discutir as reformas”, disse o estrategista do Mizuho.

Autor: Denise Abarca
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