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Usuário de Caps supera depressão e se forma em Gastronomia

14/10/2019
Usuário de Caps supera depressão e se forma em Gastronomia

Diagnosticado com depressão profunda, Alexsandro Batista encontrou na terapia e nos cuidados do Caps o suporte para superar a doença. (Foto: Arquivo pessoal)

O momento da colação de grau é muito importante, pois representa o encerramento de um ciclo e início de vários outros. Para Alexsandro Batista, a experiência é ainda mais gratificante. Formado em Gastronomia pela Faculdade Pitágoras, Alexsandro é usuário do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Enfermeira Noraci Pedrosa, localizado no Jacintinho, desde que apresentou um quadro de depressão grave.

Alexsandro conta que conheceu a culinária quando serviu ao Exército. “Foi a minha primeira experiência. Após sair de lá, eu trabalhei em um restaurante dentro do Hospital da Unimed e só foi aumentando minha paixão por cozinha. Ainda trabalhei em outros restaurantes. Chegou um momento em que eu precisei trocar de área e fui ser repositor em um supermercado e depois segurança, minha função atual na Faculdade Maurício de Nassau, no Farol”.

Agora formado, o usuário relembra como foi sua chegada à unidade, em outubro do ano passado. “Quem procurou o Caps primeiro foi minha mãe, depois de duas tentativas de suicídio. Eu não sabia o que era depressão na época, eu não conhecia a doença. Eu só ficava dentro do quarto, não saía mais com amigos, chorava muito e quando aconteceram esses episódios é que meu quadro se agravou”, conta.

Diagnosticado com depressão profunda, Alexsandro Batista encontrou na terapia e nos cuidados do Caps o suporte para superar a doença. (Foto: Neno Canuto)

Após os episódios, Alexsandro procurou um psicólogo, que o encaminhou para um psiquiatra.  “Até aí eu achava que psicólogo era coisa de doido, mas eu conversei com ele, contei e ele diagnosticou que eu estava com depressão gravíssima e me mandou procurar um psiquiatra”, relata. “Então, minha mãe veio aqui no Caps e eu fiz o acolhimento. Em seguida, fui atendido pelo Dr. Luciano [psiquiatra da unidade]. Ele viu a minha situação e disse que eu precisava ficar já naquele dia, para iniciar o tratamento urgente”.

Ele explica ainda que, no começo, não entendia o porquê de ter depressão mesmo levando, aparentemente, uma vida normal. “Eu achava estranho porque eu pensava: ‘Poxa, eu sou um estudante, sou um cara trabalhador, sou pai e sou avô e hoje estou com pessoas diferentes, com vários tipos de transtornos’”, conta o recém-graduado que tem nove filhos e duas netas.

Integração e participação no coral da unidade

Há dois meses, Alexsandro faz apenas o acompanhamento médico no Caps, mas durante o tratamento participou de várias oficinas, incluindo o coral da unidade, Voa Voa, sua atividade favorita. “Eu não queria me envolver com os projetos daqui, mas todos aqui me incentivaram. Foi quando eu conheci o coral e me identifiquei bastante. Hoje, voltei a minha atividade de trabalho, mas sinto falta de fazer parte do coral”, comenta.

O gastrônomo conta que sente falta da convivência diária com os colegas e dos ensaios do coral, mas a alegria de concluir esses ciclos é bem maior. “Graças, primeiramente, a Deus, depois aos funcionários e aos companheiros, porque foram eles que me resgataram. Quando eu cheguei aqui não tinha mais ânimo pra ir pra faculdade e todos me incentivaram. O coral foi como uma luz no fim do túnel e os medicamentos também ajudaram bastante”.

Já formado na profissão que gosta, Alexandro conta que já se voluntariou para dar aulas de culinária para os usuários da unidade, como forma de retribuir o que recebeu, além de levar mais uma oficina para os usuários da unidade. “Fico feliz por poder mostrar que todos podem também se recuperar e isso pode resgatar e incentivar até outras pessoas”, pontua.

Orgulhoso, ele exibe o anel de formatura, que não sai do dedo, e fala da contribuição do Caps em mais uma etapa superada em sua vida. “Hoje eu tenho esse anel de formatura e eu dou graças a Deus, mas também porque pessoas daqui me ajudaram a conquistar e eu fico feliz por isso”.

Gerente de Atenção Psicossocial, Izolda Dias comemora a recuperação de Alexsandro e orienta pessoas com transtorno psíquico a procurar as unidades de saúde. (Foto: Neno Canuto)

Contribuição à melhora dos pacientes

Izolda Dias, gerente de Atenção Psicossocial, enfatiza a importância de que outras pessoas com algum adoecimento mental devem procurar os serviços disponibilizados pelo Município. “A gente tem uma grande alegria de ver a autonomia com que este usuário está. Temos profissionais competentíssimos nas unidades de saúde e nos Caps, mas é necessário  que as pessoas em sofrimento psíquico busquem esses mecanismos, porque, infelizmente, o preconceito que existe, às vezes, as impede de procurar ajuda”.

Acompanhando os usuários da unidade todos os dias, juntos aos profissionais, a gerente da unidade, Rita de Cássia, explica que a recuperação do paciente é gratificante. “Nós acompanhamos e, de repente, vemos uma melhora dessa. Foi um ganho muito grande pra gente, principalmente porque vimos a situação que ele chegou aqui, muito debilitado, muito sofrido com o adoecimento mental”, relata.

Alexsandro reafirma gratidão a sua técnica de referência, a nutricionista Pauline Uchôa, e aos outros funcionários do Caps Noraci Pedrosa. Ele incentiva outras pessoas a buscar ajuda, quando necessário, para superar as dificuldades.

“Eu posso afirmar que aquele Alexsandro que estava no fundo do poço, pensava em se matar, que achava que Deus era culpado de tudo, por meio do Caps, do coral, da turma, do pessoal da limpeza e de cada funcionário, está recuperado. Eu fico grato a ter esse serviço da Prefeitura à disposição da população”, reconhece Alexsandro.