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Atletas apostam em marcas próprias para ganhar visibilidade e atrair investidores

15/09/2019

Diante da redução dos investimentos privados e públicos, os atletas olímpicos buscam novas formas de obter receitas. Promessas e campeões criam suas próprias marcas esportivas para conseguir maior visibilidade no mercado, o que facilita a busca de patrocinadores. A venda de produtos licenciados também ajuda na renda. Além disso, eles promovem eventos para interagir com os fãs e mostrar um pouco do que sabem nas chamadas “experiências”, nova ação de marketing de relacionamento que ganha força. Em outras palavras, são atletas empreendedores.

O arqueiro Marcus DAlmeida, principal nome do tiro com arco no País, criou a marca “Dispara, Brasil” para estampar bonés, camisetas, moletons, canecas e chaveiros. Denise DAlmeida, sua mãe e empresária, afirma que a venda de produtos é recente, o que dificulta uma totalização no bolo de rendimentos. Mas afirma que os produtos estão vendendo bem. “Além da parte financeira, eu queria aumentar a minha imagem e ter mais visibilidade. Queria mostrar mais sobre o tiro com o arco e beneficiar todo mundo”, diz o atleta, que conquistou a prata no Pan – a única na história depois de cinco medalhas de bronze.

Para ter sua marca, um atleta contrata uma empresa especializada em Marketing e Comunicação, que faz desde o logotipo até a venda final para o usuário pela internet. As vendas físicas são realizadas nos eventos corporativos para os quais os atletas são convidados como palestrantes – este é outro nicho do mercado. Para cada item vendido, o atleta ganha em média de 15% a 20%; o restante fica com a própria empresa para custos administrativos e operacionais. Uma caneca da nadadora Ana Marcela Cunha, campeã mundial da maratona aquática, por exemplo, custa R$ 39,90; uma camisa do boxeador Esquiva Falcão, prata nos Jogos de Londres, sai por R$ 89,90.

Ter uma marca própria não significa abrir mão das logomarcas dos patrocinadores, que sempre são usadas nos compromissos comerciais e profissionais. “Uma empresa (possível patrocinadora) dará muito mais valor para um atleta de nome, com uma imagem consolidada em relação a outro atleta que não se preocupa com isso”, explica Wagner de Rossi Junior, proprietário da Atletas de Marca, empresa que conta com uma dúzia de atletas em seu portfólio entre profissionais, olímpicos e paralímpicos. A empresa planeja agora criar marcas também para atletas amadores.

Para o surfista Carlos Burle, finalista do Big Wave Awards, prêmio da Liga Mundial de Surfe que é considerado o “Oscar” das ondas grandes, a marca retrata sua própria trajetória como atleta. “Tenho 51 anos e não estou mais competindo profissionalmente. As pessoas que me procuram estão buscando meus valores e um pouco da minha história”, diz o pernambucano, que acabou de assinar um contrato para dar seu nome para uma linha de sandálias que será lançada no mercado nordestino. “Quando você tem uma marca, as empresas veem você como um parceiro. Não apenas um veículo de divulgação”, diz o surfista.

Anderson Gurgel, professor de Marketing Esportivo da Universidade Mackenzie, explica que a criação de uma marca própria é uma forma diversificação do negócio. “São atletas de excelência que não têm janela midiática do futebol. Dentro de uma estratégia de negócios, é importante construir uma marca de sucesso para engajar os torcedores. Faz todo o sentido”, avalia o especialista.

No cenário internacional, esse já é um processo histórico. Ainda hoje, Michael Jordan, o maior jogador de basquete da história, fatura US$ 130 milhões por ano só com as vendas dos tênis Air Jordan. Atletas atuais também comprovam que são geradores negócios. Basta ver os exemplos de Roger Federer, Rafael Nadal e Serena Willians (tênis), e Lewis Hamilton e até Ayrton Senna, morto em 1994, no automobilismo.

Um novo movimento no mercado são as chamadas experiências. O atleta participa de eventos com os fãs compartilha sua experiência. Burle vai lançar o que chama de Burle Experience no Rio, Havaí e Nazaré, em Portugal. Marcus já participou de eventos fechados em que as pessoas aprenderam a usar o arco e flecha. Eventos assim custam entre R$ 10 mil e R$ 30 mil. “O atleta percebe o seu potencial e procura maximizar de marketing de relacionamento e marketing de experiência. Isso está conectado com as mais atuais tendências do marketing esportivo”, explica o professor Gurgel.

Autor: Gonçalo Junior
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