Variedades

‘Chaves – Um Tributo Musical’ se inspira na série de TV

13/08/2019

O desafio era grande: como transpor para o palco do teatro os personagens e a vila de um dos mais icônicos seriados de TV sem se parecer como uma simples cópia? Foi a primeira prova enfrentada pelo diretor Zé Henrique de Paula, quando convidado para dirigir um musical inspirado na série mexicana Chaves. “Percebemos que não poderia ser uma simples transposição, pois, se a TV oferece o close, o teatro ocupa mais o olhar do espectador”, conta o encenador que, depois de um trabalho que consumiu mais de dois meses, agora dá os retoques finais em Chaves – Um Tributo Musical, que estreia no dia 23, no Teatro Opus.

Trata-se de um texto original de Fernanda Maia, que também assina a direção musical. A trama é engenhosa: o Céu dos Palhaços é um local especial, que só recebe figuras dignas dessa função. A seleção é feita por um grupo, que logo recebe um postulante especial: o mexicano Roberto Gómez Bolaños (1929-2014), um dos ícones do humor e entretenimento de seu país, criador da série El Chavo del Ocho, conhecido no Brasil como Chaves. Entre 1971 e 1980, foram exibidos 290 episódios, que logo alcançaram sucesso mundial. Aqui, o seriado é exibido há 35 anos pelo SBT.

A história acompanha a rotina de uma vila mexicana onde os moradores locais se relacionam, tendo Chaves (Mateus Ribeiro), garoto órfão de 8 anos, como ponto central: ele tem como amigos Quico (Diego Velloso) e Chiquinha (Carol Costa) e, às vezes, enfrenta problemas com adultos, como Seu Madruga (André Pottes), Dona Florinda (Maria Clara Manesco), Dona Clotilde (Andrezza Massei), Professor Girafales (Patrick Amstalden) e Seu Barriga (Ettore Verissimo), por suas travessuras.

“São personagens muito icônicos, ou seja, os fãs têm uma relação muito passional com a série”, conta Fernanda, que assistiu a todos os episódios antes de planejar o musical. “É uma estrutura muito simples: uma sucessão de gags, com todos os personagens repetindo sempre os seus bordões. Isso mostra uma engenhosidade no roteiro.” Segundo ela, outro trunfo promovido pela linguagem simples é a falta de temor de se colocar os personagens em situações falíveis, o que gera uma grande possibilidade de momentos.

Para expandir o território da Vila e acrescentar novas figuras ao roteiro (a começar por Bolaños, vivido por Fabiano Augusto), Fernanda e Zé Henrique apostaram na figura do palhaço. “Como foi um, Bolaños soube colocar características específicas em seus personagens, como a disponibilidade tanto para o novo como para não julgar os atos dos outros”, comenta o encenador que, por causa disso, iniciou o trabalho de forma inusitada: em vez de receber o texto no primeiro dia de ensaios, o elenco foi convidado a improvisar.

“Cada um passou a testar características que julgava necessárias para seu papel”, conta Mateus Ribeiro, ator conhecido pela energia com que atua, mas, aqui, revela um surpreendente comedimento. O mais difícil, segundo ele, foi a voz. “A de Chaves é emblemática, que combina com seu tipo físico e trejeitos.” Aos fãs, uma garantia: frases como “sem querer querendo” não faltam.

“Foi um desafio”, reconhece Andrezza Massei, também com uma brilhante trajetória no musical. “Fiz um curso de palhaço, mas pouco usei na minha carreira.” A experiência, na verdade, contagiou o grupo. Como Milton Filho, que vive Benjamin, responsável pela entrada de novatos no Céu de Palhaços. “É uma homenagem a Benjamin de Oliveira (1870-1954), o primeiro palhaço negro do Brasil”, orgulha-se ele.

Também a coreografia nasceu a partir da improvisação do elenco. “A partir do momento em que surgiram os palhaços e os personagens do Chaves, meu trabalho foi o de contar a história a partir da fisicalidade; então, algumas cenas são mais infantis, adultas, poéticas, caricatas, cômicas”, observa o coreógrafo Gabriel Malo. “E os personagens da TV também ajudaram, pois são muito expressivos.” Nesse exercício de imaginação, uma cena se destaque pelo lirismo: quando Bolaños se encontra com Chaves. “Ali, a arte da imaginação se revela”, comenta Fernanda.

CHAVES – UM TRIBUTO MUSICAL
Teatro Opus. Shopping Villa-Lobos. Av. das Nações Unidas, 4777. 6ª, 21h. Sáb., 16h e 20h. Dom., 15h e 19h. R$ 75 / R$ 120.
Estreia 23/8. Até 13/10
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: Ubiratan Brasil
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