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Audiência Pública debate o desenvolvimento de Delmiro Gouveia e a preservação do seu patrimônio histórico, cultural e ambiental

01/12/2018
Audiência Pública debate o desenvolvimento de Delmiro Gouveia e a preservação do seu patrimônio histórico, cultural e ambiental

A Audiência Pública realizada na manhã do dia 30 de novembro na Câmara de Vereadores de Delmiro Gouveia reuniu representantes de diversos segmentos que debateram sobre a preservação do patrimônio histórico, cultural e ambiental nos novos empreendimentos que serão erguidos no município. A reunião foi proposta pelo vereador Pedro Paulo e presidida pela vereadora Fabíola Marques, que é 1ª vice-presidente da Casa Legislativa.

Estiveram presentes o administrador da Fábrica da Pedra Jorge Cavalcanti, o secretário de Meio Ambiente Jasiel Belizário, o superintendente do Ibama em Alagoas, Mário Daniel Sarmento, o representante do ICM – Bio Emerson Leandro, representantes do Movimento pela Valorização da Memória Sertaneja (Mova-se), empresários e populares.

Na abertura, o vereador Pedro Paulo colocou os motivos da convocação da Audiência Pública e as suas principais indagações. Ele ressaltou que a audiência tem o papel de debater o desenvolvimento dos novos empreendimentos ligado ao processo de preservação do patrimônio histórico e ambiental. “Não somos contra o desenvolvimento, mas entendemos que é preciso conciliar esse desenvolvimento com a preservação. Estamos aqui hoje porque o povo de Delmiro Gouveia não aceita que passem por cima de tudo e de todos, mas que haja um debate para que o nosso patrimônio seja conservado”, falou. Pedro, ressaltando que há uma grande preocupação na conservação do paredão do açude da Pedra Velha.

Em seguida, o administrador Jorge Cavalcanti, fez a explanação do empreendimento que está sendo erguido onde funcionava a fábrica. Chamado de Vila da Pedra Empreendimentos, o local abrigará um shopping e área de preservação ambiental, com um cinturão verde, de acordo com o projeto. Jorge explicou ainda que o paredão do açude não será derrubado, mas será feita uma obra para melhorar o fluxo da água que passa pelo local. “Não somos irresponsáveis de destruir a história de Delmiro Gouveia e nem agredir o meio ambiente”, falou.

Após a explanação do projeto, o secretário de Meio Ambiente, Jasiel Belizário, fez alguns questionamentos sobre os dejetos que serão retirados do açude e da água e que estão em análise. “Preciso saber sobre a análise mais profunda, sobre o que está ali no açude. Não sou contra o progresso, mas o projeto não pode ferir a lei ambiental e é isso que esperamos. Então precisamos da análise completa da água e dos dejetos para que possamos autorizar o segmento da obra”, falou o secretário.

O representante do Ibama, Mário Daniel, frisou que por parte do órgão não há nenhuma interferência no projeto. “Observamos que o projeto possui o tripé de ser economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente sustentável, então não vejo porque o Ibama interferir”, falou. Emerson, do ICM-Bio, ressaltou sobre a preocupação com o açude e a possibilidade de um rompimento. “Caso haja um rompimento da barragem com a realização dessa obra, a preocupação é que essa água de esgoto desça para o Rio São Francisco pelo Riacho. Estamos disponíveis para analisar o projeto e dar um parecer se o projeto é seguro. Não estamos aqui para atrapalhar o desenvolvimento, mas que a legislação seja respeitada para que no futuro não precisemos chorar por um eventual acontecimento”, disse.

Após as explanações, foram abertas as colocações e indagações do público presente. O vice-presidente estadual do PSOL, Toni Clóves, considerou o projeto de cunho econômico. “Esse é um projeto meramente econômico e eu considero que não deve ir de encontro ao interesse coletivo. O paredão do açude deve ser preservado porque é um patrimônio do povo de Delmiro”, enfatizou, agradecendo à Câmara de Vereadores a oportunidade do debate sobre o assunto.

A assessora parlamentar Edileuza Patriota arrancou suspiros da plateia ao falar das memórias de Delmiro Gouveia e a importância das pessoas. “Não estou preocupada com o paredão nem com a Fábrica da Pedra, mas estou preocupada com as pessoas. O Grupo Carlos Lyra não pode cometer a irresponsabilidade de agredir a pessoas através da história. Sei que empregos todo mundo quer, todo mundo precisa, mas a gente precisa de três coisas que o mundo empresarial ainda não descobriu: como faz a equação de somar amor, respeito e esperança”, disse.

Os representantes do Mova-se – o cineasta Tairone Feitosa, o engenheiro João Victor, e o advogado Gerd Gomes – colocaram o objetivo do movimento como uma ferramenta para a conservação do patrimônio histórico. “Não somos contra nenhum projeto de desenvolvimento, somos a favor que se preserve a nossa história, a história de Delmiro Gouveia, que é uma história que não pertence a um grupo, mas à comunidade, ao Estado e até ao país”, falou Tairone.

João Victor fez indagamentos sobre a lama do açude, caso apresente metais pesados, qual a posição que o grupo Carlos Lyra tomará e criticou o projeto ter iniciado sem a resposta da análise do material. Gerd falou sobre a importância da conjunção de posições expostas durante a audiência. “Estamos falando de memórias. O paredão do açude não é só uma estrutura pedra e cimento, mas passa por um sentimento de afetividade de todo um povo que a cada dia está perdendo referenciais. É necessário frisar que somos favoráveis ao desenvolvimento de Delmiro Gouveia, mas a questão é: como vamos discutir o desenvolvimento com os elementos afetivos de Delmiro Gouveia? E é isso tem que deve ser levado adiante como fazem em Roma, que se desenvolve mas não deixam a memória de lado”, frisou.

O professor da rede pública, Emerson Máximo, falou da importância da preservação do patrimônio como fonte para as novas gerações. “Parece que a memória está sumindo ao longo das gerações. Ao apagar a matéria a memória não se alimenta, então precisamos conservar o que ainda está aí. Espero que esse momento sirva para sensibilizar e ressaltar a importância de preservar e estimular a cultura e o patrimônio da nossa cidade”, disse.

O empresário e pesquisador Eliseu Gomes, popularmente conhecido como Leleu, encerrou as colocações falando sobre o projeto do Grupo Carlos Lyra em fazer algumas alterações no paredão do açude. “O projeto do Shopping com as raízes da cidade, refazendo a parte histórica da Fábrica da Pedra, eu aplaudo. Já o que estão querendo fazer com o açude eu discordo”. Leleu deu algumas sugestões que podem ser realizadas, a exemplo de uma estação de tratamento de esgoto do Eldorado, Ponto Chique e Pedra Velha para não despejar os dejetos no açude, entre outras melhorias. “Essa é minha contribuição gratuita para esse projeto. Temos que preservar a história e a ecologia”, falou.

Após as explanações e indagações, Jorge Cavalcanti respondeu aos questionamentos e a vereadora Fabíola encerrou a audiência. “Comungo com o sentimento de cada delmirense e cada sertanejo que aqui se encontra preocupados com a preservação da nossa história”. Pedro Paulo agradeceu a presença de todos, frisando a importância de momentos como esse na Câmara de Vereadores. “Esta audiência pública cumpriu com seu objetivo e aqui nós, os cidadãos delmirenses, ficamos cientes de uma coisa: o desenvolvimento é necessário, mas, contudo, ele tem que estar atrelado diretamente a preservação da história e a preservação dos nossos recursos naturais”.

Ainda estiveram presentes à reunião o coordenador administrativo da Fábrica da Pedra, Fernando Brandão; o advogado do Grupo Carlos Lyra, Quirino Fernandes; Rafael Tenório, da Associação Comercial de Delmiro Gouveia; Jailson Santana, representando o CDL; o empresário Luciano Aguiar; Eraldo Nunes, do Crerssal, Imprensa e representantes da comunidade.