Geral

Afrodisíaco, molusco fálico americano é adorado na China

21/07/2015
Afrodisíaco, molusco fálico americano é adorado na China

Textura e visual exótico do molusco são muito valorizados por entusiastas (Foto: AP)

Textura e visual exótico do molusco são muito valorizados por entusiastas (Foto: AP)

Não é o prato de aparência mais convidativa e tem um nome estranho…mas na China o molusco do tipo amêijoa de nome científico Panopea generosa(geoduck, em inglês) é uma iguaria delicada – o que provocou uma corrida na costa oeste americana para cultivá-los, de olho na comercialização.
A primeira coisa que chama a atenção é a forma – ele não é chamado de “Rei dos Mariscos” à toa.
Ele é longo e tem uma protuberância em forma de sifão que sai de sua concha e escava a areia. Ele suga água do mar para retirar nutrientes e depois a esguicha para fora novamente.
Ele é o maior dos moluscos que vivem enterrados, pode pesar até 7,25 quilos, e tem um sabor delicioso.
Tanto que nos restaurantes de frutos do mar da China paga-se até US$ 300 por um molusco desses importado viva dos Estados Unidos ou Canadá.
Sua textura delicada e visual exótico são muito valorizados por entusiastas – que o chamam de “molusco tromba de elefante”. A iguaria é considerada um afrodisíaco pelos chineses.
“Você sente o sabor do Pacífico… ele é escorregadio, muito tenro e doce”, dizem apreciadores em Pequim.

Estatísticas vitais

O nome em inglês “geoduck” vem de um povo nativo americano chamado Nisqually. O significado é “cavar fundo”.

Esse molusco bivalve é encontrado nos Estados de Oregon, Washington, Alasca (todos nos EUA) e British Columbia (Canadá) – em praias com profundas camadas de areia.
Leva seis anos para que um molusco geoduck cultivado chegue à idade madura. Mas eles podem viver por até 160 anos – idade que pode ser medida por anéis que se formam em sua concha.

O “sifão” pode chegar a um metro de comprimento

Ele pode ser servido salgado, como sopa, sushi ou sashimi – mas os caldos são mais comuns.
Mas nos Estados Unidos poucas pessoas sabem da existência do molusco. Mais de 90% do que é coletado é enviado para a China e Hong Kong.
O negócio é lucrativo, pois a demanda é maior que a oferta e os restaurantes lutam para obter o produto.
Bill Dewey, cuja empresa Taylor Marisco comercializa ostras desde 1890 em Puget Sound, no Estado de Washington, passou os últimos 25 anos investindo em fazendas de geoduck.
“Geoduck é a nossa espécie mais nova e levamos um longo tempo, cerca de uma década, só para chegar em um ponto em que deixamos de perder dinheiro”, disse Dewey.
“Ainda não é infalível mas hoje é um negócio lucrativo. E estamos começando a vender mais nos Estados Unidos também. Mas a demanda chinesa controla o preço – e aquele mercado quer pagar muito”.
“O valor do geoduck é de US$ 10 por 0,45 kg, mas os chineses pagam US$ 150. Em Londres, um estabelecimento chinês pagou US$ 312 por um quilo.”

Por que os chineses gostam tanto disso?

“Parte disso é a aparência fálica. Mas também representa status fazer uma refeição com geoduck”, diz Dewey.
Nos Estados Unidos, o molusco ganhou um status “cult”, especialmente no Estado de Washington – onde alguns até o adotaram como uma espécie de talismã. Um exemplo é o mascote “Speedy” do time de futebol do Evergreen State College.
A canção do time é “Vamos geoducks. Estiquem o pescoço quando a maré está baixa. Sifão para o alto, esguiche para fora…”
Cavar as areias da praia em busca do molusco no verão é “parte da tradição local”, segundo Dewey.
“É um passeio familiar. Você sai na maré baixa com uma pá e tenta achar um geoduck. Uma pista é o jorro do sifão”.
“Mas leva horas para retirá-lo da areia – é uma grande escavação. Se você tiver sorte você leva um para casa e faz uma boa fritada”.
A empresa de Dewey produz 318 mil quilos de geoduck cultivado por ano e vende 50% no país especialmente para os mercados asiáticos de várias cidades americanas.
Chefs de cozinha também estão incluindo a iguaria em suas receitas.
“Eu não costumava oferecer, mas agora os clientes pedem”, disse o empresário Taichi Kitamura, dono do restaurante Sushi Kappo, em Seattle. Cozinhar a criatura é um processo delicado, Segundo Dewey. O sifão parece couro quando sai da água.
“Você o coloca em água fervente para remover a pele exterior . Então você fica com uma peça suave de carne branca. Em um sushi bar você corta em fatias, mas há muitas receitas – como sopa ou ceviche”.
Se a cultura do molusco decolar a economia da região pode ser transformada. Atualmente é difícil conseguir uma licença, mas Dewey diz que o negócio é adequado.
“Não estamos explorando o oceano, estamos produzindo bebês em nossa incubadora”.