Brasil

Represas de mineração precárias são risco de nova catástrofe

25/01/2020
Represas de mineração precárias são risco de nova catástrofe
Bombeiros buscam por sobreviventes em Brumadinho, em janeiro de 2019

Bombeiros buscam por sobreviventes em Brumadinho, em janeiro de 2019

Helena Taliberti planeja realizar uma cerimônia no Centro de São Paulo neste sábado (25/01), um ano após o rompimento da barragem de Brumadinho, em Minhas Gerais. A mulher, de 62 anos, perdeu quase toda sua família depois que a barragem da mina de minério de ferro Córrego do Feijão se rompeu e liberou 13 milhões de metros cúbicos de rejeitos.

Na época, o choque foi profundo em todo o Brasil, especialmente porque as pessoas já conheciam as imagens de rejeitos mortais: três anos antes, a barragem de uma mina de minério de ferro havia rompido a 120 quilômetros de Brumadinho. Naquela época, 19 pessoas morreram perto da cidade de Mariana, milhares ficaram desabrigadas e os rios da região, incluindo o Rio Doce, foram contaminados.

A Vale, cuja subsidiária Samarco era dona da barragem em Mariana, prometeu não só indenizar rapidamente as vítimas como também reconstruir a região. Mas, apesar de todas as declarações feitas na época de que tal catástrofe não deveria acontecer novamente, o impensável ocorreu. “Em retrospecto, Mariana foi uma espécie de sinal de alerta para Brumadinho que, infelizmente, não foi ouvido”, afirma Helena Taliberti. “Por fim, não houve medidas para evitar o desastre.”

A especialista em mineração Susanne Friess, da organização humanitária alemã Misereor, ligada à Igreja Católica, visitou Brumadinho dois meses antes do rompimento da barragem. A organização mantém inúmeros projetos com foco na proteção social e ambiental na região, que é repleta de minas. “Na época, as pessoas da comunidade me disseram como tentavam proteger as fontes de água e impedir a expansão das minas”, ressalta Friess, em entrevista à DW. “E eles estavam preocupados que algo como o rompimento da barragem de Mariana pudesse acontecer novamente.”

Processo contra a certificadora TÜV Süd

No início desta semana, o Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou 11 gerentes da Vale e cinco funcionários da certificadora alemã TÜV Süd por homicídio doloso duplamente qualificado – quando há intenção de cometer crime.

A instabilidade da barragem em Brumadinho foi deliberadamente escondida, segundo os promotores, que também descobriram uma lista secreta da Vale com dez barragens particularmente instáveis.

Para Susanne Friess, isso prova que os desastres de Mariana e Brumadinho têm origem semelhante. “Nos dois casos, a empresa sabia exatamente o que estava acontecendo e não fez nada. Portanto, minha leitura é que eles não aprenderam nada com o rompimento da barragem em Mariana.”

No entanto, Friess deposita esperanças na Justiça. Em conversas pessoais com representantes do Ministério Público, ela diz que ficou com a impressão de que os erros de Mariana deveriam ter sido evitados em Brumadinho. Quatro anos depois de Mariana, ela afirma que ainda impera um caos sobre responsabilidades e compensações que dificilmente pode ser resolvido.

Friess diz que logo após o rompimento da barragem de Brumadinho, as autoridades praticamente deram o caso de Mariana como encerrado, se concentrando na nova tragédia. “Mariana também vive o drama de ter deixado de ser foco de atenção, junto com os muitos erros que foram cometidos”, sublinha Friess.

Bomba-relógio

Friess teme que ocorram outras catástrofes, já que existem cerca de 770 barragens semelhantes em todo o Brasil. “A maneira como foram construídas e como são controladas transformaram essas barragens em bombas-relógio. É possível desativá-las se houver vontade política”, frisou a especialista. “Pode-se desativá-las ou estabilizá-las para, pelo menos, ganhar mais tempo.”

Segundo relatos da mídia brasileira, atualmente 55 barragens estão sem certificação válida e 41 estão fechadas devido à situação de risco. “É um drama para as pessoas que vivem nas regiões, porque elas não podem avaliar o quão segura ou não é a situação”, conta Friess. “Elas não podem confiar nas autoridades, nas certificadoras e nas empresas de mineração. A questão é: quem realmente pode fornecer uma sensação de segurança?”

No que depender do governo brasileiro, a mineração deve ser expandida ainda mais, inclusive na região amazônica, em grande parte intocada. Para Susanne Friess, esse é “um cenário de horror”, levando em conta os bilhões de metros cúbicos de resíduos que poderão ser gerados. “Eu não acho que a mineração possa ser sustentável. Isso é uma contradição.”

Trata-se de prevenir o pior. No entanto, o presidente Jair Bolsonaro até agora tem reduzido os requisitos de proteção e segurança ambientais, em vez de aumentá-los. “As constelações de poder atualmente não são muito favoráveis”, lamenta Friess.