Geral
Marco Nanini conta como encarou o enfermeiro gay de ‘Greta’
Para o espectador que guarda Lineu no imaginário – e que podia, até há pouco, matar a saudade da Grande Família nas tardes da Globo -, pode vir a ser um choque essa nova imagem que Marco Nanini propõe de si mesmo. Estreia na quinta, 10, o longa que Armando Praça adaptou da peça Greta Garbo, Quem Diria, Acabou no Irajá, de Fernando Mello. No filme, Greta Garbo acaba em Fortaleza e o título foi reduzido. Ficou só Greta. Na ficção, Nanini faz um velho enfermeiro gay – Pedro – cujo fetiche, na hora do sexo, é ser chamado de Greta Garbo, como a lendária estrela da Metro nos anos 1930 e 40. Greta quem? O amante da vez, que ele cata no próprio hospital em que trabalha e leva para casa – ‘Jean’/ Demick Lopes se envolveu num assassinato e é sua chance de fugir -, não faz ideia de quem seja essa Greta Garbo, mas cumpre sua parte no pacto.
Greta Garbo! Para encurtar assunto e ir diretamente ao ponto, o filme tem beijo gay e essa talvez seja a parte mais light da história. Tem sexo, palavrão, mas calma – não deu a louca em Nanini, nem ele está jogando no ralo a credibilidade que alcançou como artista e cidadão, ao longo de uma extraordinária carreira no teatro, cinema e televisão. Acontece, e é o xis da questão, que Nanini tem plena consciência de ter 71 anos, de ser gay e viver numa união estável com outro homem. Vive discretamente, aliás, mas nem é esse o ponto. Há tempos, Nanini buscava um texto que lhe permitisse assumir a idade e mostrar seu corpo. “A vida como ela é, tudo caído”, ele brinca. A proposta de Praça para fazer o filme chegou na hora certa. Ele leu o roteiro e não vacilou. “Faço!”
A cena mais difícil é a final, que evoca o desfecho do clássico Rainha Cristina, que Rouben Mamoulián realizou em 1933 com a atriz que era chamada de divina e de esfinge. Sueca, Greta Garbo sempre quis fazer um filme sobre a mítica rainha Cristina, que renuncia por amor ao trono da Suécia, mas a História lhe prega uma peça. O homem amado morre e Cristina, sem amor e sem trono, a bordo do navio que a leva – para lugar nenhum -, olha o infinito, sem nada ver. A cena é uma longa tomada desse rosto que não significa nada. Ou tudo. Conta a lenda que Mamoulián pedia a Garbo que não pensasse em nada, não tentasse expressar nada. O vazio. Nanini também olha para a câmera. Um plano longo, lento. “Disse para o Armando: vamos logo com isso. E vamos fazer de uma vez, porque, se não der certo de primeira, não vai ser na centésima vez que vou acertar. Ensaiamos. Merda! Na hora de filmar eu pisquei.” Uma história de gente solitária, sofrida, marginalizada.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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