Variedades

‘Downton Abbey’ na telona

20/10/2019

Michelle Obama é fã. Kate Middleton, também. Então, não é muito difícil de imaginar por que Downton Abbey, a série inglesa que conquistou o mundo por seis temporadas, acabou virando filme, que estreia no Brasil na quinta, 24. “Uns dois anos antes de finalizarmos a série, pensamos num longa”, disse o produtor Gareth Neame, em entrevista em Londres. “Porque os fãs do mundo todo ficaram com a impressão de que encerramos um pouco cedo demais. Teria ficado muito desapontado se não tivéssemos conseguido fazer.”

Mas, primeiro, era preciso uma história que justificasse a presença dos personagens mais queridos, tanto os do andar de cima (leia-se: os aristocratas), como o Lorde Grantham (Hugh Boneville) e sua mulher Cora (Elizabeth McGovern), as filhas do casal, Mary (Michelle Dockery) e Edith (Laura Carmichael), o genro Tom Branson (Allen Leech), e, claro, a mãe do lorde, Violet (Maggie Smith), quanto os do andar de baixo (os empregados), como o atual mordomo, Thomas Barrow (Robert James-Collier), as cozinheiras Sra. Patmore (Lesley Nicol) e Daisy (Sophie McShera), a governanta Sra. Hughes (Phyllis Logan) e até o aposentado Sr. Carson (Jim Carter), sem contar a pouco representada classe média, na forma de Isobel Crawley (Penelope Wilton), que continua tendo os melhores embates com Violet. “Precisávamos de um elemento unificador”, explicou o criador de Downton Abbey e roteirista do filme Julian Fellowes. “Na série, não precisávamos disso. Mary podia estar com um novo namorado, e Daisy, comprando um chapéu. Necessitávamos de algo que afetasse a todos e provocasse uma resposta emocional também.”

Nada poderia agitar mais a propriedade do que uma visita da família real, mais especificamente do rei George 5º (avô da rainha Elizabeth 2ª e interpretado por Simon Jones) e da rainha Mary (Geraldine James), que estão na região de Yorkshire para visitar a filha, a princesa Mary (Kate Phillips). Mas nem tudo são flores, joias, chapéus e pratarias: os empregados de Downton logo descobrem que vão ser colocados de lado pelos funcionários da Família Real.

Enquanto isso, Daisy revela suas tendências republicanas, Tom, ex-motorista, também lida com seu passado político, e Thomas enfrenta riscos por ser homossexual.

O segundo passo foi conseguir reunir o elenco, que anda ocupado. Mas os atores parecem ter voltado com gosto. “Para mim, nem tinha o que pensar, porque era trabalhar novamente com minha família”, disse Allen Leech. Segundo Michelle Dockery, foi como se nunca tivessem deixado o Castelo de Highclere, onde a série foi filmada. “Foi um grande privilégio”, afirmou. Elizabeth McGovern descreveu a experiência como “muito fácil”. “Todo o mundo se encaixou imediatamente em seus papéis.”

Como a série, Downton Abbey, o filme, mostra um mundo em que drama não falta, mas tudo é resolvido de forma mais ou menos harmoniosa, sempre com boas intenções. E talvez resida aí o segredo do seu sucesso. “Acho que a popularidade vem do afastamento do que está acontecendo hoje”, disse o diretor Michael Engler. “Há uma nostalgia de um tempo em que as pessoas estavam mais conectadas, em que existia um senso maior de comunidade. Porque hoje a sociedade ficou muito contenciosa e fragmentada.”

A trama se passa em 1927 – a série, que começou sua história em 1912, terminou no primeiro dia de 1926. Claro que se trata de uma visão romântica desse passado. “Mostramos os anos 1920 sob lentes cor-de-rosa”, disse Jim Carter. “A vida era bem mais dura, especialmente para os empregados. O Lorde Grantham é o melhor patrão do mundo, mas na verdade não havia nenhuma segurança para os funcionários”, completou o ator. Penelope Wilton concordou. “Eu não acho que os empregados eram tratados tão bem assim. Não havia mobilidade social. A série é uma fantasia, é escapismo.”

Mas o entretenimento também serve para isso, afinal. O filme encaixa todas as peças para uma possível sequência. Julian Fellowes deixou aberta a possibilidade. “Não existe motivo para dizer que não, porque, se você diz que não nesta indústria, depois tem de engolir!”, disse. “Vamos esperar para ver.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: Mariane Morisawa, especial para o Estado
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