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Cultura afro resgata autoestima e promove ressocialização de socioeducandas

19/09/2019
Cultura afro resgata autoestima e promove ressocialização de socioeducandas

A música é reconhecidamente um recurso terapêutico e pedagógico eficiente que tem o poder de ensinar, integrar e fazer sorrir até mesmo quem parece não ter tantos motivos para tal. Com esse entendimento, a Secretaria de Estado de Prevenção à Violência (Seprev), por meio da Superintendência de Medidas Socioeducativas (Sumese), tem utilizado, com sucesso, a musicoterapia na assistência e na reintegração social de cerca de 20 adolescentes, entre 14 e 19 anos, que cumprem medidas socioeducativas na Unidade de Internação Feminina (UIF).

A superintendente da Sumese, Denise Paranhos, explica que “as atividades culturais têm estimulado a descoberta de talentos e contribuído para a construção da história e da autoestima dessas adolescentes, ajudando na criação de uma nova mentalidade, dissociada da marginalização e dos erros cometidos no passado”.

Atualmente, dois projetos integram as atividades musicais na UIF: a Banda de Percussão Afrodara e o Coco de Roda Odara. A palavra que dá nome aos grupos – incorporada à nossa cultura por influência afrodescendente – significa Belo, Ideal e Maravilhoso, e expressa o propósito dos projetos: valorizar a cultura e a história afro-brasileira.

O responsável pela condução dos grupos é o educador social Anderson Ronac, que além de ensinar o toque dos instrumentos e o ritmo da dança, desenvolve um trabalho de resgate desses valores. Na sala de aula, Ronac apresenta as raízes de cada cultura, a exemplo do Coco de Roda, que antes de se tornar uma expressão artística era o ritmo utilizado para marcar a pisada do massapê na construção das casas de taipa, onde a casca do coco era amarrada aos pés para proteção da pele.

“Quando as meninas se apresentam, elas sabem o que estão fazendo, conhecem a história e o significado daquela cultura para si e a para a sociedade. Além disso, a música é um canal para a exteriorização da sensibilidade, um caminho para a disciplina e o crescimento pessoal que tem dado muito certo. Por isso, esse projeto do Estado tem prosperado: existe há mais de sete anos”, afirma o professor.

O trabalho de construção cultural é fortalecido com atividades extraclasse, como as visitas ao Parque Memorial Quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga, onde as adolescentes participam de atividades, que incluem aulas de campo, pesquisas e debates para a discursão sobre a consciência negra.

A adolescente M.R.S., de 16 anos, é umas das integrantes mais recentes do Coco de Roda e já fala com propriedade sobre o que aprendeu na UIF. “Acima de tudo, nossa música passa a mensagem da cultura negra e traz à memória a lembrança de líderes, como Zumbi e mulheres brasileiras, que lutaram contra o preconceito. Não se trata só de cantar ou dançar, mas de viver tudo isso, viver a nossa história”, comenta.

A supervisora da UIF, Samara Veluma, ressalta que as atividades culturais acontecem no contra turno escolar das adolescentes, uma vez que todas estudam desde o primeiro dia na Unidade. Samara explica que as aulas regulares são ministradas por professores da Escola Estadual Educador Paulo Jorge dos Santos Rodrigues e seguem o mesmo cronograma das escolas estaduais.

“Assim que as meninas chegam à Unidade, são inseridas em uma das turmas de acordo com o nível escolar que apresentam. Elas estudam todas as disciplinas regulares do Ensino Fundamental 1, Ensino Fundamental 2 e Ensino Médio, como em qualquer escola estadual, a diferença é que nesse caso a escola vem até elas”, explicou Samara.

A supervisora diz também que a prática do canto, os movimentos da dança e as saídas para apresentações externas são ferramentas importantes para o resgate da autoestima e da aproximação social das adolescentes. As últimas participações aconteceram no Hotel Jatiúca, durante o encontro da Associação Brasileira de Imprensas Oficiais (ABIO), e no Centro de Convenções, em um evento promovido pela Arsal.