Variedades

Hugo Possolo lança agenda e fala de novo conceito para o Teatro Municipal de SP

16/07/2019

Um espaço de excelência para a ópera, a música e o balé, em diálogo com outras formas de manifestação artística e cada vez mais aberto à cidade e sua diversidade. Assim o diretor artístico do Teatro Municipal de São Paulo, Hugo Possolo, define o conceito que deve pautar sua gestão.

Em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S. Paulo, na qual anunciou a programação do segundo semestre, o ator e diretor teatral defende a busca por maior experimentação em diálogo com novos olhares sobre a tradição. Após Rigoletto, de Verdi, que estreia no sábado, serão apresentadas as óperas Prism, de Ellen Reid, estreada em 2018 em Los Angeles e premiada com o Pullitzer, e a opereta A Viúva Alegre, de Lehar, com direção de Miguel Falabella. Espetáculos de teatro, circo e outras áreas também compõem a programação, sobre a qual Possolo fala na entrevista a seguir.

Ao nomeá-lo, o secretário municipal de Cultura, Alê Youssef, falou no conceito de um Teatro Municipal “multicultural”. O que lhe foi pedido por ele?

Nada foi encomendado. Nós dialogamos sobre possibilidades a partir do que significa o Municipal para a cidade. O Municipal é o palco de ópera e de música, e a gente queria ter o cuidado de refletir sobre o que seria uma programação que respeitaria a diversidade paulistana sem ser contraproducente àquilo que hoje já existe e é feito com excelência. Propus a ele que essa linha teria espaço principalmente no projeto Novos Modernistas, que tem dois eixos: a ideia de diversas linguagens e a representatividade de expressões que representam a ideia de ruptura da Semana de 22. Do ponto de vista da ópera, propus que não ficássemos limitados a certos cânones, que buscássemos provocar a linguagem cênica, mas também a linguagem criativa da música. Isso trabalha a favor da excelência que já temos aqui. Não queremos isolar linguagens, que podem estar ligadas na principal casa de espetáculos da cidade.

Você falou no significado do Municipal. Qual deve ser ele?

O Municipal significou e significa um espaço musical de excelência, uma casa com expressão muito forte, mas um pouco voltada para si mesma. Podemos levar essa expressão para fora e trazer outras aqui para dentro, como na Virada Cultural, onde tivemos espetáculos de teatro no Municipal e um concerto no Pátio do Colégio. Há uma estimativa de que 30% do público de um espetáculo vem ao Municipal pela primeira vez. Se a gente amplia e ao mesmo tempo fideliza aquele que já acompanha, potencializa o recurso que é investido. Queremos um palco mais ocupado, por mais gente, gente diferente. Não se trata de popularização, o teatro já é popular, ele não é elitista. Aliás, acho que a elite deveria vir mais aqui para conhecer, patrocinar, ajudar.

O Teatro Colón de Buenos Aires produz oito títulos por ano, em São Paulo são quatro. Há um receio de que a presença de outras áreas diminua mais o espaço para o gênero.

Há um medo, claro. Mas tenho a perspectiva de, no ano que vem, fazer cinco óperas, com o mesmo orçamento, mas dimensionando a proporção do investimento, com maior número de récitas. Quando dirigi ópera aqui, eram quatro récitas, com a possibilidade de mais uma; depois, foram seis, passou para oito, acho que tem que ir para dez, doze. Se esgotam os ingressos, é porque tem demanda, e se tem demanda, tem que fazer mais. É óbvio que precisamos ter em mente a divisão do palco com outras atrações, mas com saídas para outros palcos abre-se espaço para isso. Precisamos de uma constância maior, continuidade, permanência. E um critério é a participação maior dos corpos estáveis. Quero voltar com as Vesperais Líricas, com uma linguagem mais moderna. Ampliar a potência do que já se tem aqui dentro.

Nas óperas, o conceito é unir o tradicional a novas obras?

O tradicional é fundamental para o conhecimento, mas não precisa ser engessado pela ideia de tradição. Prism foi um achado do maestro Roberto Minczuk e é muito a perspectiva que quero dar ao teatro. Uma música de qualidade, requintadíssima, e ao mesmo tempo com uma temática contemporânea instigante, com uma poesia muito forte. E, de outro lado, A Viúva Alegre, com direção do Miguel Falabella, com toda a complexidade da ópera sem se distanciar do público. A ideia é expandir, mais récitas, maior relação com o público, uma casa com mais porosidade. Acabar com a hesitação das pessoas. Quando você faz uma peça de teatro com Dan Stulbach e ela lota, muita gente que nunca havia entrado aqui passa a se sentir à vontade.

E você acredita que há esse trânsito de público, ou seja, a pessoa que vem aqui para ver uma peça volta para ver uma ópera?

Acredito que sim. Quando você amplia o leque, cria intersecções. Se você cria as possibilidades, você muda. As pessoas vão ao Sesc independentemente do que está sendo apresentado.

O Municipal também engloba escolas de música e bailado. Como pensar em um diálogo da programação com elas?

Sem formação não há transformação. Não sou responsável diretamente pelas escolas, mas farei o possível para que essa interação aconteça. O Opera Studio tem acompanhado os ensaios de Rigoletto, há um apadrinhamento dos estudantes pelo Balé da Cidade. Isso é fundamental para os dois lados. Gosto da ideia de um Complexo Teatro Municipal de São Paulo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: João Luiz Sampaio, especial para a AE
Copyright © 2019 Estadão Conteúdo. Todos os direitos reservados.