Geral

Alocação de recursos por governos passados foi ineficiente, diz presidente do BC

16/05/2019

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, criticou nesta quinta-feira, 16, a alocação de recursos pelos governos passados em maneiras que julgou “ineficiente”. “O principal erro foi achar que o crescimento seria feito pelo governo e não pelo setor privado. O governo ocupou o espaço do setor privado por tanto tempo que o setor privado ficou sem capacidade de reação” afirmou, em audiência na Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Congresso Nacional.

E completou: “O governo estimulou consumo errado e financiou projetos ineficientes. Não adianta agora tentar achar solução pública, porque não há espaço fiscal.”

Estratégia errada

O presidente do Banco Central também criticou “experiências” no passado quando a instituição teria sido, segundo ele, mais tolerante com a alta da inflação em troca de uma aposta maior no crescimento da economia. “Já fizemos várias experiências no passado onde se trocou inflação mais alta para ter crescimento mais alto e isso se mostrou errado. A crise de 2014 decorreu disso e houve perda de credibilidade que levou a dois anos de recessão”, afirmou.

Segundo Campos Neto, é errado achar que o BC só olha par a inflação e não se preocupa com a recuperação da atividade. “Achamos que a melhor forma de crescer no longo prazo é ter a inflação controlada”, afirmou. “Os exemplos estão marcados na nossa história. Achar que vamos trocar inflação controlada de longo prazo por crescimento no curto prazo leva a voos de galinha”, completou.

Campos Neto reforçou que Comitê de Política Monetária (Copom) avalia três fatores para tomar suas decisões sobre a taxa básica de juros Selic: o cenário internacional, que tem potencial de injetar ou retirar bastante liquidez do mercado; o cenário de perspectivas de reformas, que pode reduzir a taxa de juros estrutural brasileira; e o hiato do produto, que é o quanto que existe de folga na economia.

Crédito

O presidente do BC culpou a baixíssima taxa de recuperação de crédito e os altos custos operacionais e financeiros dos bancos pelo nível dos spreads no mercado brasileiro. Segundo ele, toda a agenda do BC, com 14 grupos de trabalho, endereça alguma medida relacionada ao custo do crédito. “Temos olhado bastante para os spreads, talvez seja a nossa principal tarefa. O dinheiro não está chegando na ponta com um custo acessível para as pessoas”, afirmou. “As taxas juros estão nas mínimas histórias e spreads estão muito altos”, admitiu.

Campos Neto voltou a argumentar que a concentração bancária não é a maior culpada pelos altos spreads no crédito. “Trocamos a competição pela estabilidade. Diversos países, inclusive os Estados Unidos, acharam que esse sistema tem menor vulnerabilidade”, alegou.

Ele explicou os quatro principais componentes dos spreads: inadimplência, custo operacional, custo financeiro e lucro – sendo que a lucratividade dos bancos corresponderiam a 15% dos spreads. “O custo trabalhista no Brasil ainda é alto, mesmo após reforma trabalhista. Jornada bancária é de seis horas, enquanto a maioria dos países é de oito horas. Também temos um problema sério de segurança das agências em muitos municípios”, elencou.

Segundo Campos Neto, o custo financeiro dos bancos também é alto, devido ao nível dos depósitos compulsórios exigidos pelo BC e ao baixo retorno das modalidades de crédito direcionado.

Ele alegou ainda que o maior custo é o custo de inadimplência e lembrou que o BC tem tomado medidas para reduzir o custo de informação, como cadastro positivo, Open Banking. “Quanto mais conheço da pessoa que estou emprestando, menor será a inadimplência. Além disso, temos um problema sério de recuperação de crédito, na média de apenas 13 centavos de cada real, com demora de quatro anos. A inadimplência brasileira não é tão mais alta que a do resto do mundo, mas não se recupera nada de volta. Isso faz uma diferença enorme”, completou.

Por isso, Campos Neto voltou a reforçar a necessidade de aprovação de medidas microeconômicas que reduzam o custo do crédito. “Juro alto é como dirigir avião sem instrumento, quando o juros baixa você consegue enxergar mais em volta, viver com juro alto por muito tempo criou muitas ineficiências, está na hora de atacá-las”, concluiu.

Microreformas

O presidente do Banco Central afirmou que a agenda de microreformas é a saída para melhorar a vida dos empreendedores no Brasil. Como exemplo, ele citou a ampliação do microcrédito, das cooperativas de crédito e ainda novas tecnologias como o Open Banking e o sistema de pagamentos instantâneos.

“As microreformas podem ajudar com o fato de País ser ‘inferno de empreendedores’. Nossa agenda é fazer medidas micro e a competição é enorme dimensão para atuarmos”, disse o presidente do BC.

Segundo ele, o objetivo do órgão é diminuir o “inferno” que é a vida do empreendedor. Também garantiu que o que está nas mãos do BC é, como órgão regulador, é estimular a competição no setor bancário.

O Open Banking, por exemplo, conforme Campos Neto, vai permitir que qualquer pequeno banco entre nos maiores possa oferecer produtos mais baratos com o consenso do cliente.

Cooperativismo

O presidente do Banco Central defendeu a ampliação do funding para as cooperativas de crédito e uma maior integração tecnológica para fomentar o microcrédito. “O cooperativismo no Brasil tem desenvolvimento muito heterogêneo entre as regiões. No Sul é mais que 10% do crédito do total, e há regiões onde não existe. Nosso objetivo é dobrar o cooperativismo não apenas no crédito para agricultura, mas também para outras áreas. O comprometimento do BC com o setor é total”, afirmou, em audiência na Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional.

Autor: Eduardo Rodrigues e Aline Bronzati
Copyright © 2019 Estadão Conteúdo. Todos os direitos reservados.