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A parceria com Fernanda Montenegro, pelo diretor
Na entrevista, Karim Aïnouz manifesta sua preocupação, e até indignação. Como no governo de Fernando Collor de Mello, quando extinguiu a Embrafilme, ele vê agora uma nova tentativa de desmontagem do cinema brasileiro. “Não conseguiram uma vez, e estão tentando de novo. Mas essa gente vai passar e o que nos define, como brasileiros, não são eles, que não têm grandeza nenhuma. O que nos define é a Fernanda Montenegro, essa grande atriz com quem tive o privilégio de trabalhar.”
Fernanda faz uma das irmãs, muitos anos depois, na atualidade. “Ela é maravilhosa, uma atriz excepcional e uma pessoa humana generosa. Fernanda não prega o ódio, é toda amor. É a expressão de tudo de bom que o Brasil tem a oferecer. Prefiro me ligar nela, que engrandece meu filme.”
Karim Aïnouz tem feito filmes que abordam o universo trans (Madame Satã) e o gay (Praia do Futuro). Ofereceu grandes papéis a Lázaro Ramos, no primeiro, e a Wagner Moura, no segundo. Mas ele não seria um grande cineasta sensível às questões femininas se não tivesse feito também O Céu de Suely e O Abismo Prateado, em que Hermila Guedes e Alessandra Negrini estão excepcionais. Aïnouz e Fernanda Montenegro andaram trocando mensagem sobre a reciprocidade da troca em A Vida Invisível de Eurídice Gusmão.
O filme dá visibilidade às mulheres anônimas, sofridas, guerreiras. “Para mim, dirigir um ator é um ato de comunhão”, explica Aïnouz. “Na verdade, essa comunhão é algo próximo a uma paixão avassaladora que dura o período do trabalho. Digo paixão, pois para mim só faz sentido se for assim, se puder ser incansável, arrebatador e potente. Acho que nesse sentido, também, como a paixão, isso não tem nenhuma particularidade em relação a ser no Brasil ou na Alemanha, ou onde mais for. Meu trabalho como diretor existe na medida em que existe esse lugar comum de entrega e confiança, se eu não suscitei isso no ator, arrisco a dizer que nem o dirigi. Por isso, também, minha alegria, tendo a certeza de que eu tive o prazer de experienciar esse filme com você. O filme para mim é um processo vivo que se nutre muito desse lugar onde as entregas todas se encontram, minha, dos atores e de toda equipe, dirigir para mim é, em algum sentido, organizar todas essas potências.”
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