Geral

‘Quero ficar, agora mais do que nunca’ diz professor da escola Raul Brasil

20/03/2019

“Pouco se falou desse herói. Salvou muitas crianças que corriam desesperadas, puxando para dentro da sala de aula, fazendo barricadas com mesas na porta e vigiando para ver se os assassinos vinham na direção deles. Parabéns, professor Agnaldo.”

O texto foi publicado em rede social por um ex-aluno da Escola Estadual Professor Raul Brasil, alvo do ataque a tiros que deixou dez mortos há uma semana. Na postagem, o rapaz menciona a atuação de Agnaldo Xavier, de 47 anos, que ajudou a esconder cerca de 60 estudantes durante o massacre.

Professor de Matemática há dez anos e do Raul Brasil há cinco, Xavier é um dos funcionários que ajudaram a minimizar os impactos do ataque à escola. “Pensei que era bombinha, mas aí eu fui na porta. Um dos alunos corria, dizendo que era tiro e que mataram a ‘tia’. Abri a porta e comecei a gritar para entrar todo mundo. Fechei a porta, mas deixei uma abertura para eu ficar olhando a ação deles, não queria ser pego de surpresa. Não sabia quantos tinha. Só vi dois, mas não sabia se tinha mais”, relembra.

À reportagem, o professor se mostrou orgulhoso pela Raul Brasil ser uma das melhores escolas da região. “A minha vida se resume a tentar dar um incentivo para esses jovens, um futuro”, conta. Nesta terça-feira, 18, ele foi ao colégio ajudar no acolhimento dos alunos, enquanto faltou ao próprio acolhimento (no dia anterior) para ficar com a filha – ainda assustada, embora estude em outra instituição. “Hoje (terça) teve muitos pais me abraçando e chorando. Alunos gratificados. Deus me colocou no lugar certo, na hora certa.”

Sobre a permanência no Raul Brasil, diz não ter dúvidas, “agora mais do que nunca”. “Temos de colocar ele (o colégio) no lugar de novo. Se não melhorar (com ações de governo), a gente vai reivindicar.”

Silmara

Nesta terça, não faltaram histórias de “heróis” a relembrar. Até uma semana atrás, Silmara Moraes, de 49 anos, era a mãe de três jovens, a “pastora” de uma igreja de Guaianases e a “tia da merenda” do Raul.

Hoje, das redes sociais até o grafite no portão de onde mora, a “Silmara Maravilha” é lembrada como a mulher que usou um freezer para impedir a entrada de atiradoras no refeitório, salvando 60 adolescentes na instituição em que entrou há dez anos.

Silmara conta que conhecia todos os alunos que morreram no massacre. “Lembrava de todos. O Cleiton era o mais quietinho, ficava sempre nos cantos. Lembro dele desde a quinta série.”
Na terça, recebeu muitos abraços na volta às aulas, de quem nem sabia que tinha salvo. De uma menina, ganhou trufas e um bicho de pelúcia. “Ainda não caiu a ficha. Eu não vejo por esse lado, como uma heroína. Eu vejo assim, como um coração de amor. Eu faria isso em qualquer lugar que estivesse, acho que seria essa a minha reação, pelo amor que tenho àquele lugar.”

Autor: Priscila Mengue, com colaboração de Isabela Palhares
Copyright © 2019 Estadão Conteúdo. Todos os direitos reservados.