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Sandy sobre o filho Theo: “Vou segurar ao máximo para que ele não seja artista mirim”

06/10/2017
Sandy sobre o filho Theo: “Vou segurar ao máximo para que ele não seja artista mirim”

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Nasci em Campinas, interior de São Paulo, e estudei a vida inteira no Colégio Notre Dame. Foi lá, que começou minha “obsessão” por Sandy & Junior. Literalmente, corria atrás dos dois durante o recreio para vê-los de perto, pedir autógrafos e dar presentes. Sonhava em ser a melhor amiga da Sandy e namorar o Junior. Qual criança da década de 1990 não pensava nessas coisas?

Muitos anos se passaram — muitos mesmo — e reencontrei com a minha maior ídola para fazer essa capa digital. Desta vez, não pedi autógrafo. Pedi selfie! Os tempos mudaram, né?!
Apesar de já ter conversado outras vezes com ela, era a primeira vez que faríamos juntas uma entrevista longa, de fôlego (e bota fôlego nisso, porque falamos pra caramba). Não costumo levar minhas perguntas impressas – sei tudo que quero perguntar de cabeça – mas ficar frente a frente com a Sandy me deixa sempre nervosa. Então, coloquei a pauta em cima da mesa e confessei pra ela que meu coração estava batendo forte.

Comecei o bate-papo dizendo que nos últimos tempos, achava que ela estava diferente, mais engraçadinha, topando brincadeiras e mostrando um lado divertido que o público não conhecia. Foi aí, que ela me contou que a maturidade havia feito com que ela se sentisse mais segura para não se levar tão a sério. Papo vai, papo vem, falamos sobre seus 27 anos de carreira, os problemas da infância sob os holofotes, a decisão de voltar a cantar — a contragosto — depois do nascimento de Theo, a não exposição do menino, os desencontros no casamento… e vi que ela não era mais aquela princesinha intocável, dentro do castelo, que parecia ter uma vida perfeita. A Sandy também tem seus medos, suas culpas, suas crises e dúvidas. Ela é tão humana quanto eu, quanto você! Então, me senti segura como ela para não ter que espiar a cola das perguntas — nem sequer uma vez — e trago para vocês, o melhor desse delicioso encontro.

Tenho sentido que ultimamente você anda mais solta, mais descontraída, se levando menos a sério. Isso tem acontecido mesmo ou é impressão minha?

Depende da época com a qual você está comparando. Se você comparar com quando eu era adolescente, tem uma diferença porque amadureci. É natural, a gente vai ficando mais segura ao longo da vida e da carreira. Tenho participado de muitos programas de humor e acabo tendo a oportunidade de me soltar um pouco mais e ser mais espontânea. Mas sempre fui essa pessoa mais solta que você está vendo agora, quando estou em casa, com meus amigos. Sempre gostei muito de humor, sempre fui muito desbocada, de falar o que penso. Sou muito espontânea, aquela que comete ‘sincericídio’, sabe?! Gosto de ter essas oportunidades para brincar, para tirar sarro de mim mesma. Acho que isso vem bastante com a maturidade. É uma segurança que a gente vai adquirindo ao longo do tempo. De poder rir de si mesma, de poder se sacanear.

Em janeiro você fez 34 anos. É quase inacreditável. Sentiu o peso da idade?

As pessoas não acreditam quando falo que tenho 34 anos (risos). Eu senti muito o peso da idade quando fiz 30. É mais uma coisa interna, uma confusão. É ter uma percepção de: “Putz, agora eu sou oficialmente uma adulta. Tenho que correr atrás, fazer tudo direito, não posso mais brincar em serviço”. Mesmo tendo sido muito adultinha, bateu esse negócio de pensar que eu tenho que ser mais responsável. Sou muito ansiosa também, então fiquei pensando nas coisas que eu ainda queria realizar enquanto jovem. Eu achava que estava com 70 anos e que não teria mais forças pra viajar, queria aprender outras línguas… Parecia que a água estava batendo na bunda: “Tenho que realizar tudo, tenho que ser mãe…”. Mas a gente vai se acostumando com essa idade. A gente faz 31, 32, 33, e vê que não mudou tanto assim. Agora, estou achando estranho que estou chegando nos 35. É quase a metade do caminho pros 40 (risos). Assusta um pouco porque o tempo está passando muito rápido.

Sandy (Foto: Brunno Rangel)

E agora, o que sente?

Já me acostumei com essa vida adulta. Não que eu goste de tudo que vem com ela. Depois que me mudei para uma casa (antes Sandy e Lucas moravam em um apartamento em Campinas), tenho mais funcionários e mais coisas para administrar. Dá muito trabalho morar em casa, isso me deixa muito, muito, estressada. Têm coisas que você fala: “Sério mesmo, eu tenho que compor uma música, gravar não sei o que e eu tô aqui pensando no cano que estourou? Fala sério!”. Eu me meto em tudo. Sou eu quem tenho que decidir o horário que o encanador vem, falar o problema, avaliar se ficou bom. Sou eu quem moro lá. Como dona de casa, sou enlouquecida pra sempre.

Você ainda tem gastrite nervosa?

Tenho gastrite mas a controlo bem com alimentação e remédios naturais. Faço bastante coisa para relaxar. Faço terapia desde os 18 anos, que já me ajuda bastante. Acupuntura também ajuda em tudo. Acredito que todos os problemas de saúde que a gente têm são de causas emocionais. E agora, tenho feito meditação sempre que dá. Às vezes, tomo banho de banheira, mesmo se tenho só 10 minutos. Eu coloco sais na água e fico lá, com os olhos fechados. É muito bom.

Você completou 27 anos de carreira. O que passa na cabeça quando olha para trás?

Comecei com 7 anos. É muita coisa, né?! Eu não acredito ainda. Quando olho para trás penso: “Meu Deus, quanta coisa eu fiz, como eu conseguia dar conta de tudo isso?” Mas tenho tanto orgulho do meu passado, sou tão feliz por ter realizado tudo isso. Eu não faria nada diferente, eu não trocaria nada. Eu faria tudo de novo se pudesse escolher. Isso é muito bom, dá uma tranquilidade muito grande chegar na maturidade, olhar pra trás e não ter do que se arrepender. E eu sou dessas que gosta de se arrepender do que fez.

Você faz planos? Planejou chegar até aqui?

Depende, sou muito de “deixar a vida me levar”. Não planejo para muito distante. Mas quando, por exemplo, eu e meu irmão terminamos a nossa carreira, eu fiz planos para uma carreira solo, sim. Fiquei 2 anos meio que sabáticos, terminei a faculdade, me casei, me dediquei à vida pessoal e aí, comecei a fazer a pré-produção do meu novo disco solo. Comecei a buscar minha identidade como artista solo e foi um mergulho dentro de mim muito importante. Alí, fiquei um pouco insegura, com um pouco de medo. Falava: “Meu Deus, qual vai ser meu público, qual público vai se identificar com o meu som? Será que alguém vai gostar do que vou fazer?” Aquele momento foi de muita introspecção, uma certa responsabilidade de decidir para mim o que seria do meu futuro. Mas só. Decidi que queria ter uma carreira solo e tracei um caminho musical no começo. Mas foi um processo totalmente intuitivo. Não foi exatamente um planejamento, fui deixando fluir. Sempre fazendo o que o meu coração pedia. O tempo foi passando e ao longo desses anos, fui agindo com a minha intuição. Gosto de pensar muito antes de tomar uma decisão e aí, me jogo. Então, são planos a curto prazo. Não é um planejamento da carreira. E esse caminho que percorri aqui me trouxe num lugar hoje que me deixa satisfeita pra caramba. Isso dá uma paz. Eu só tenho que ser eu. Faço música que sei fazer, na qual acredito e a qual gosto.
aspas (Foto: )

É verdade que quando o Theo nasceu você pensou em parar?

É sério mesmo, pensei em parar de cantar. Porque filho preenche a mulher que tem essa vontade de ser mãe, preenche de um jeito que toma conta, que parece que não vai faltar mais nada se você só for mãe. Mas vai! E eu tomei uma decisão cem por cento racional quando voltei a trabalhar. Porque no futuro, eu poderia me arrepender. Eu sabia que poderia perder espaço e depois não conseguiria retomar minha carreira. O mundo muda, a música muda, as pessoas mudam muito rápido. E se depois eu quiser voltar e não tiver mais espaço para mim? Então, eu voltei numa decisão racional e dolorida pra caramba. Eu realmente não estava com vontade de trabalhar. Eu chorava ao sair de casa. Às vezes, ainda choro de tristeza de deixar o Theo. Mas mãe é assim. E graças a Deus, tomei essa decisão. Porque foi quando pisei no palco que vi o buraquinho que estava lá dentro e não sabia que estava. Foi muito legal, fiquei muito emocionada de voltar a cantar. E minha profissão ganhou um novo sentido. Eu tinha alguém mais para quem fazer.

O Theo entende que você é famosa?

O Theo entende e acha normal, porque cresceu vendo isso. Ele vê o vô (Xororó) e o dindo (Júnior) na televisão. Ele sabe que somos cantores. Ele gosta de cantar minhas músicas. Das atuais ele gosta de ver o clipe de “Aquela dos 30”, porque têm pessoas que ele conhece e a nossa cachorrinha Zelda no final. Ele gosta de “Me Espera” também. Quando lancei o clipe, ele pedia para ver de novo e de novo e virou fã do Tiago Iorc. Ele gostava mais do Tiago do que da mãe dele, só queria saber das músicas do Tiago. Ele gosta de “Respirar”. No show, sempre que ele vai na passagem de som, canto “Pés Cansados” para ele. Mas ele gosta mais de Sandy & Jr. Ele gosta de “Dig-Dig-Joy”, “Resposta da Mariquinha”, “Desperdiçou”. Tudo ele assiste na internet. Ele canta tudo e canta direitinho. É afinado e tem ritmo pra caramba. Ele é musical, sempre gostou de música e sempre foi espontâneo, ele pedia, ele gostava de brinquedos musicais: percussão, bateria, guitarrinha.

Sandy (Foto: Brunno Rangel)

Você canta pra ele?

Eu canto bastante, mas com ele canto mais músicas infantis. A gente não é muito de ficar tocando e cantando em casa. Mas para ele, acabamos fazendo. O Lucas trabalha o dia inteiro em casa, no estúdio, então o Theo vai lá, visita o pai trabalhando, pega um tamborim e toca, pega o violão e começa a brincar. Ele vive música no nosso dia dia. O Lucas tem o ouvido maravilhoso para música. Então, ele tira qualquer música no piano que o Theo quiser e eles cantam juntos, é uma delícia. O Theo é apaixonado por trilha sonora de desenho. Ele ouve as músicas e sabe em que momento do desenho está. A gente incorporou mais música no nosso dia dia por causa do Theo.

E se ele quiser seguir seus passos e ser cantor?

Eu realmente espero que não, não tão jovem assim. Quero muito que ele tenha a música como hobbie, sabe?! Mas eu não posso decidir nada pelo meu filho. Eu sei que vou incentivá-lo a ter a música como hobbie porque é maravilhoso para o desenvolvimento. Mas espero que ele não seja artista, nem músico. Se ele quiser, é claro, vou apoiá-lo. Mas vou segurar ao máximo para que ele não seja artista mirim, nem artista adolescente. Porque eu sei das dificuldades. Eu tive muita sorte, mas não é assim com todo mundo. É um mundo muito cruel e também frustrante. Tem muita gente que passa a vida inteira tentando e não consegue. Não consegue viver disso, não consegue espaço, não consegue se destacar. E a música é um pouquinho dependente do sucesso. Normalmente o artista tem a inspiração de ir para televisão, divulgar seu trabalho, ter sua música tocando na rádio. E se você não consegue isso, você fica frustrado. E é a maioria que não consegue.

Você também diz isso porque perde-se muito da infância e da adolescência? Aconteceu com você?

Aconteceu um pouco, sim. A gente tinha responsabilidade do trabalho, mas era uma coisa que a minha mãe sempre nos dava opção. Todo ano, íamos renovar o contrato com a gravadora e ela vinha perguntar, dizia que achava melhor não renovar: “Poxa já deu, vocês já gravaram dois discos, estão felizes. Vamos voltar para a nossa vidinha de criança?” E a gente falava não e chorava. A gente gostava muito. Pra gente, era exercer como profissão nosso hobbie favorito. A gente estava brincando alí em cima do palco. Tivemos a sorte de termos muitas portas abertas por causa do meu pai e depois, fomos conquistando as pessoas, nosso espaço. Mas sem remar daquele jeito e morrer na praia. Sem derrotas no começo. Eu queria poupar o Theo dessas possibilidades ruins. E outra, eu tinha que dividir meu tempo para ter minha carreira, ir para a escola, ter amigos. Eu não tinha toda a liberdade e privacidade que meus amigos tinham. Por exemplo, de brincar na rua. Fiz isso quando não era famosa, mas depois, acabou. Têm algumas coisas que perdemos por ser famosos. Na infância é mais perigoso, tanto é que, muitos artistas que começam criança, dão uma surtada depois. Isso não aconteceu comigo e nem com meu irmão porque meus pais sempre puxaram a gente para a realidade e não deixaram a gente se deslumbrar, se perder e ficar doidão. Então, quero que o Theo tenha uma infância/adolescência comuns.