Alagoas

Mais de 25% das mães de bebês nascidos em AL são adolescentes, aponta DataSus

16/10/2017
Mais de 25% das mães de bebês nascidos em AL são adolescentes, aponta DataSus
Estudante Elisiane Maria e seus filhos Sofia e Júnior (Foto: Hágata Christye)

Estudante Elisiane Maria e seus filhos Sofia e Júnior (Foto: Hágata Christye)

Mais de 25% das mães de bebês nascidos vivos em Alagoas são adolescentes, segundo levantamento do Departamento de Informática do SUS (Datasus), com dados de 2015. Esse índice está acima do que recomenda a Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 10%.

Para a OMS, são consideradas mães adolescentes meninas com idade entre 10 e 19 anos.

A estudante Elisiane Maria da Silva é uma delas. Hoje com 18 anos e dois filhos, ela lembra como foi dar à luz pela primeira vez, aos 16. “Foi muito difícil ter eles dois muito nova. Eu achei muita besteira minha, porque tem tudo quanto é tipo de coisa para se prevenir e eu não tive isso”, lamenta.

No mesmo ano, ela descobriu que estava grávida novamente. Ela é mãe do Júnior, de dois anos, e da Sofia, de um. A estudante é a mais nova de cinco irmãs e três delas engravidaram na adolescência.

A jovem mora em Maceió com os pais, uma sobrinha e os dois filhos. Na casa dela, apenas o pai e a mãe trabalham para o sustento da família. Ela conta que os pais dos meninos também ajudam.

“O pai do Júnior ajuda de vez em quando, mas é mais a avó dele, porque ele não trabalha, e o pai da Sofia também me ajuda muito. O pai dele o vê mais, porque mora mais perto, e o pai dela vem quando dá, quando ele tem folga do trabalho, ele fica com ela”, relata.

Sentindo as dificuldades de duas gestações na adolescência, a estudante não deseja no futuro uma gravidez precoce para a filha, “mas se vier, será bem vinda”, revela.

A estudante Amanda de Sá, de 18 anos, também engravidou de maneira precoce e atualmente está no último mês de uma gestação de risco. Amanda diz que até conhecia os métodos anticoncepcionais, mas nunca usou porque não gostava, e agora reconhece que esse não foi o melhor momento para engravidar.

“Está tudo certo com o pré-natal, mas eu fico com medo por causa da minha idade e por causa da asma. Eu tenho medo de morrer no parto, tenho medo que o bebê não nasça saudável”, lamenta a estudante Amandá, que por causa da gravidez de risco faz pré-natal no Hospital Universitário (HU), na Cidade Universitária.

Apesar dos medos, ela se diz feliz com a gravidez e junto ao marido espera pela chegada do bebê, que já tem nome.

“A primeira ultrassom foi bem legal, a compra da primeira roupinha também. Foi emocionante saber que dentro de mim batem dois corações. Eu queria uma menina, mas veio um menino e eu já escolhi o nome, vai ser Bruno”, revela a estudante.

Em busca de um futuro melhor, Amanda está cursando o 3º ano do ensino médio e pretende terminar os estudos depois do nascimento do bebê.

Estudante Amandá de Sá no chá de bebê com seu marido Bruno Henrique  (Foto: Arquivo pessoal)

Estudante Amandá de Sá no chá de bebê com seu marido Bruno Henrique (Foto: Arquivo pessoal)

Gravidez precoce é um risco à saúde

Embora o índice de mães adolescentes ainda seja alto, a quantidade de bebês nascidos de meninas com idade entre 15 e 19 anos diminuiu em uma década em Alagoas. Em 2005, 14.952 adolescentes deram à luz; em 2015 foram 12.918. Porém, aumentou o número de mães de 10 a 14 anos. Foram 700 em 2005 e 827 em 2015.

Segundo o médico ginecologista Antônio Carlos Moraes, quanto mais nova a gestante, maior o risco de uma complicação por causa da gravidez precoce. Ele explica que muitos problemas acontecem por causa da estrutura física da menina.

“Até 15 anos a estrutura é muito rudimentar, ainda está em formação, em crescimento, isso dá umas deformidades e uma dificuldade para o bebê se acomodar na bacia. Quanto mais precoce, mais chance de se ter prematuro”, afirma o especialista.

Além de problemas na saúde física, a gravidez precoce pode afetar o psicológico das mães adolescentes, como aconteceu com a estudante Elisiane Maria.

“Dela [Sofia], eu quase entrei em depressão, passei uns quatro meses, do terceiro mês e meio até os seis meses, mas depois ao conversar com a médica, eu falava com a assistente social e ela foi me tranquilizando mais e foi normal, me senti a melhor mãe do mundo. A minha irmã também quase entrou em depressão quando descobriu que estava grávida”, lembra.

A adolescência é uma fase de transição, quando o desenvolvimento emocional ainda está se completando, como explica a psicóloga Vanessa Ferry. Ela atende a mães adolescentes do Hospital Universitário (HU) e conta que algumas delas enfrentam quadros depressivos.

“Tem um quadro que é típico do pós-parto, que nós chamamos de baby blue, que é uma tristeza profunda. Elas dizem ‘antes era só na minha imaginação, agora eu sou responsável por outra pessoa’ e isso impacta. A gente vê um reflexo de reações de entristecimento, de reações que as vezes chegam até a uma depressão”, expõe.

  “Algumas vezes a gente percebe que são crianças cuidando de crianças. Já chegamos a ter adolescentes que queriam fugir do hospital”, lembra a psicóloga.

Psicóloga Vanessa Ferry no setor de psicologia do HU (Foto: Hágata Christye)

Psicóloga Vanessa Ferry no setor de psicologia do HU (Foto: Hágata Christye)

Vanessa explica que essas adolescentes são prejudicadas pelas circunstâncias, desenvolveram a atividade sexual muito cedo e muitas vezes não têm maturidade para lidar com as consequências e responsabilidades.

Além de trazer mudanças no psicológico, a gravidez afeta a família das mães adolescentes. “O que eu vejo muito presente aqui em Alagoas é uma naturalização, principalmente nessas famílias de baixa renda, que são vulneráveis. Eu já ouvi relatos de mães de adolescentes grávidas dizendo ‘ainda bem, ela vai sair de casa, ela precisa constituir a família dela. Quando a gravidez é rejeitada pelo pai da criança, eu ouço muitos relatos de avós dizendo ‘vai ser um a mais em casa, eu não vou conseguir dar conta”, aponta.

Apesar disso, segundo a psicóloga, as meninas se empenham para dar o melhor para os bebês e cuidar deles como elas não foram cuidadas.

Métodos de prevenção

Existem diversos métodos contraceptivos para evitar uma gestação. O médico ginecologista Antônio Carlos Moraes explica que alguns são mais indicados para as adolescentes.

“É muito comum a história da adolescente esquecer de tomar medicamento, então teria que ser um método muito mais seguro para ela. O injetável é uma alternativa, ela usa um por mês. Tem também o adesivo na pele e o implante hormonal. Ele dura três anos, em média, e é só de progesterona, tem uma resposta muito boa”, explica.

O uso do Dispositivo Intra Uterino (DIU) tem crescido entre as adolescentes, segundo o ginecologista. Ele pode ser usado por 5 ou 10 anos e dá para ser colocado a partir dos 13 ou 14 anos de idade. As adolescentes devem usar hormônios de baixa dose e o DIU é indicado porque não tem hormônio.

Além de uma gravidez indesejada, a relação sexual sem proteção pode causar doenças sexualmente transmissíveis (DSTs).

“O injetável, o comprimido, ou qualquer outro método para evitar a concepção, a princípio não vai resolver, porque ela vai pegar outras doenças. Às vezes um método combinado, um preservativo e um outro, como comprimido, se ela não esquecer de tomar, é melhor”, alerta o ginecologista.