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Diretor da CBF cita Vinícius Júnior e defende uso de terceiros para evitar saídas precoces

10/05/2017
Diretor da CBF cita Vinícius Júnior e defende uso de terceiros para evitar saídas precoces

Antes mesmo de ver a estreia de sua maior promessa recente, o torcedor do Flamengo já convive com a possibilidade de vê-lo deixar o clube em pouco tempo. Os rubro-negros estão ansiosos para ter Vinicius Júnior, de 16 anos, em campo no time profissional. Mas sabem que será por pouco tempo. Quando completar 18 anos, ele deve ir para o Real Madrid. E esse cenário levantou um debate nesta terça-feira, em seminário realizado na CBF. Para o diretor de Registros e Transferências da entidade, Reynaldo Buzzoni, o banimento da participação de terceiros nos direitos econômicos dos atletas dificultou a manutenção de jovens de destaque.

– É um caso emblemático (Vinícius Júnior). Ele tem 16 anos e já estão vindo clubes grandes da Europa para comprar ele daqui dois anos. E o clube do Brasil não tem condição de bancar um jogador que tem potencial para ficar, até chegar na Seleção. Você não tem condição de bancar esse salário – argumentou Buzzoni.

Desde o dia 1º de maio de 2015, somente clubes têm direito de possuir os direitos econômicos dos jogadores em contrato. Para a Fifa, “terceiros” são os investidores, agentes, intermediários, fundos (trust funds), sociedades, os próprios jogadores e seus parentes. Buzzoni acredita que, caso houvesse uma limitação, ou até mesmo que os atletas tivessem o direito de contar com uma fatia do percentual, a situação poderia ser diferente.

 

“Quando um jogador vai fazer 18 anos, dificilmente o clube tem capacidade de pagar um grande salário para ele. Com a diferença de moeda, você não consegue dar um TPO (participação de terceiro), dar um direito econômico para ele. Você não tem direito para pagar ele e ele vai embora. E o clube que formou o jogador não ganha nada com isso”, Reynaldo Buzzoni, diretor de Registros e Transferências da CBF

 

Vinícius Júnior foi integrado ao time profissional do Flamengo nesta terça-feira. O diretor executivo do clube, Rodrigo Caetano, também esteve no evento na CBF e revelou o desejo de estender o contrato com o jogador. O atual vínculo vai até 2019. No entanto, a equipe carioca tem uma proposta de cerca de R$ 157 milhões do Real Madrid pelo jovem atleta. Ele iria para a Espanha quando completasse 18 anos, em 2018.

O debate na CBF foi promovido após as palestras de dois diretores da Fifa: Omar Ongaro, diretor de Regulamentação, e Kimberly Morris, chefe deIntegridade e Compliance do Fifa TMS, o sistema de transferências usado por clubes de todo o mundo. Além deles, o advogado especialista em Direito Esportivo Internacional, Marcos Motta, também participou da discussão. Omar defendeu o banimento de terceiros nos contratos dos jogadores e citou, principalmente, a integridade do jogo.

– Podemos ter um caso de um certo investidor ter participação de um atacante de um clube A e um zagueiro de um clube B. Se eles decidirem aumentar um valor do jogador do clube B, eles poderiam, por exemplo, falar para o jogador do time A pegar leve em um jogo. Isso vai fazer o zagueiro parecer um ótimo zagueiro e aumentaria seu valor. É uma situação hipotética, mas poderia acontecer. E pelo fato de acontecer, precisamos evitar esses potenciais conflitos que afetem a integridade da competição – justificou Ongaro.

 

Antes de bani-los, a Fifa só registrou a participação de terceiros entre 1º de janeiro de 2015 até 30 de abril de 2015, período dado pela entidade para adaptação à nova regra. Nesse tempo, 6420 contratos foram catalogados com a participação da terceira parte. Mais de 35% era de clubes brasileiros, 2297

 

 

Diretor da CBF defende regulamentação

 

Embora acredite que a participação de terceiros nas negociações de jogadores seja um bom mecanismo para evitar o êxodo precoce, Reynaldo Buzzoni faz ponderações sobre o assunto. Ele defende uma regulamentação do uso de investidores no futebol. Mas não a sua livre presença. E, principalmente, a possibilidade de o atleta ter uma fatia de seu próprio direito econômico.

– Da forma que estava era péssima para os clubes. Os clubes brasileiros praticamente não tinham jogador nenhum. Eu sou a favor da regulamentação. Espero que a lei saia, que possa limitar percentuais, o atleta deveria ter direito ao percentual, mas isso não depende da gente – declarou.

A “lei” citada por Buzzoni pode sair. A Lei Geral do Desporto já é Projeto de Lei e já está para ser votada em comissão no Senado. O texto vai incorporar a Lei Pelé, alterar uma série de itens, dentre eles, regulamentar a participação de terceiros. Segundo o atual projeto, seria possível ceder até 45% dos direitos dos atletas. O diretor da CBF espera que o texto seja aprovado e, com isso, nem mesmo o regulamento da Fifa poderia interferir.

– A CBF não pode mudar isso porque estamos debaixo do guarda-chuva da Fifa. Mas se vier por uma lei federal, não tem como fazer. Sou a favor da regulamentação. Banir, da forma que foi feito, é complicado. Deveria regulamentar aos poucos e, talvez lá na frente, banir. Para nós, para os nossos clubes, foi prejudicial. Os clubes não conseguem segurar os atletas. Os clubes lá fora têm maior poder de barganha, eles vêm aqui e levam.