Geral

O que a ciência já descobriu sobre as notícias falsas

01/04/2017
O que a ciência já descobriu sobre as notícias falsas

O grande volume de notícias falsas na internet e sua crescente velocidade de disseminação em redes sociais já é alvo de estudos científicos há alguns anos. Diante das evidências de que esse tipo de informação pode ter consequências impactantes para a sociedade, os especialistas querem entender melhor como as pessoas consomem e distribuem as informações.

Veja abaixo as conclusões de quatro estudos recentes sobre as chamadas “fake news”:

 

Quem compartilha a notícia influencia mais na credibilidade que a fonte da notícia

 

Uma pesquisa feita pela agência Associated Press e o American Press Institute concluiu que o fato de uma pessoa que compartilhou uma notícia ser considerada confiável influencia mais na confiança que o leitor deposita na informação que a fonte primária de uma notícia.

No estudo, as pessoas pesquisadas avaliaram de forma muito diferente as notícias compartilhadas por personalidades em que confiavam, como a apresentadora Oprah, por exemplo, em comparação com notícias de alguém em quem não confiavam.

No entanto, não fizeram muita diferença em relação a se estavam publicadas no site de um veículo de confiabilidade reconhecida, como o da própria Associated Press, ou um site qualquer inventado. Para testar isso, os autores do estudo criaram uma página fictícia chamada DailyNewsReview.com, mas isso pouco afetou na impressão dos entrevistados sobre as notícias que liam.

O teste foi feito usando celebridades como fontes de notícias, mas é de se imaginar que o mesmo valha para pessoas não famosas que compartilham informação em redes sociais. Ou seja, o usuário tende a valorizar bastante a notícia compartilhada por um familiar em quem confia mais, por exemplo. O que, evidentemente, pode ter implicações se esse familiar “confiável” compartilha notícias falsas.

 

Jovens estudantes também não têm muita clareza sobre a credibilidade da informação na internet

 

Pesquisadores da Universidade Stanford, nos EUA, aplicaram questionários a alunos de ensino fundamental, médio e superior, e analisaram mais de 7.800 respostas para chegar à conclusão de que, de modo geral, eles apresentam pouco discernimento sobre o que é uma fonte de informação que pode ter credibilidade, e não separam o que é conteúdo jornalístico de conteúdo patrocinado, mesmo quando isso está claramente escrito.

“Muitos assumem que, por serem fluentes nas mídias sociais, os jovens são igualmente espertos em relação ao que encontram por lá. Nosso trabalho mostra o contrário”, dizem os autores. Mais de 80% dos jovens pesquisados acharam que um conteúdo patrocinado era uma nota jornalística.

Uma seção “Sobre o autor” bem escrita e com aparência profissional é o suficiente para convencer os jovens americanos de que um site é neutro e tem credibilidade. Eles também não questionam a veracidade de fotografias e a maioria não consegue avaliar se um tuíte é parcial ou tem isenção.

 

Exclusão social tem relação com propensão a acreditar em conspirações

 

Um trabalho da Universidade de Princeton concluiu que o sentimento de exclusão social pode levar as pessoas a buscar significado em histórias mirabolantes que podem não ser verdadeiras.

Esse pensamento conspiratório leva a um ciclo perigoso. Quando as pessoas com ideias conspiratórias compartilham suas crenças, podem se afastar mais da família e dos amigos, provocando ainda mais exclusão. Isso pode levá-los a se juntar a comunidades que compartilhem as teorias da conspiração, onde se sentem bem-vindos, o que, por sua vez, irá reforçar ainda mais suas crenças.

“Tentar interromper este ciclo pode ser a melhor aposta para alguém interessado em contrariar as teorias de conspiração no nível da sociedade”, diz Alin Coman, professor-assistente de Psciologia em Princeton. “Caso contrário, as comunidades poderiam se tornar mais propensas a propagar crenças imprecisas e conspiratórias.”

 

As pessoas podem ser ‘vacinadas’ contra as notícias falsas

 

Cientistas das Universidades de Cambridge, no Reino Unido, e Yale e George Mason, nos Estados Unidos, propuseram uma espécie de “vacina” para imunizar as pessoas contra boatos.

Fazendo testes com um grupo de pessoas, eles notaram que uma notícia verdadeira, ao ser contraposta a uma mentirosa, muitas vezes é “anulada” — a mentira, para um leitor desavisado, tem tanto peso quanto a verdade.

Os pesquisadores, então, tentaram expor as pessoas de forma preventiva a pequenas doses da informação mentirosa, como uma forma de alerta, avisando-as, por exemplo, que existem pessoas espalhando boatos sobre determinado assunto. Expostos a essa “vacina”, posterioremente, quando confrontados com uma notícia verdadeira e uma mentirosa sobre um mesmo assunto, os participantes da pesquisa já não deram tanto valor à falsa.

Segundo os pesquisadores, técnicas de “inoculação psicológica” como essas foram utilizadas no passado pelas indústrias do tabaco e do petróleo para abalar um consenso científico junto à opinião pública.