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Áudios indicam desorientação do piloto do avião que levava Teori

25/01/2017
Áudios indicam desorientação do piloto do avião que levava Teori
Piloto tinha pouca visibilidade da pista de pouso de Paraty (Foto: G1)

Piloto tinha pouca visibilidade da pista de pouso de Paraty (Foto: G1)

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) informou que análise preliminar dos áudios extraídos do gravador da cabine do avião que caiu no mar de Paraty (RJ), provocando a morte do ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki e mais quatro pessoas, “não aponta qualquer anormalidade nos sistemas da aeronave”.

A gravação reforçou a hipótese de que houve desorientação espacial do piloto Osmar Rodrigues em razão do mau tempo na região.

O desastre aéreo ocorreu no início da tarde da quinta-feira passada, dia 19. O Cenipa afirmou que conseguiu extrair “com sucesso” todo o áudio do equipamento. O chip de memória do gravador de voz da cabine do bimotor ainda está sendo avaliado por uma equipe do laboratório de leitura e análise de dados de gravadores de voo (Labdata) do centro de investigação.

De acordo com técnicos envolvidos nos trabalhos, em conversa com outro piloto que estava decolando da pista de Paraty, Rodrigues indicou que faria uma manobra para esperar uma melhor visibilidade para o pouso, já que o aeroporto de Paraty não tem instrumentos de auxilio à navegação.

As informações apontam, no entanto, que o tempo entre a fala do piloto sobre a espera que faria por causa da chuva e a nova tentativa de pouso que levou ao choque com o mar é muito curto, o que mostra que Rodrigues não esperou tempo suficiente para a melhora do tempo.

Conforme a TV Globo, as gravações mostram que o piloto teria tentado pousar duas vezes na pista. As análises preliminares indicam que, pouco antes da queda, o King Air C90 voava a uma altitude muito próxima do mar – com um teto de cerca de 60 metros. Essa situação pode ter contribuído para uma desorientação espacial do piloto.

Na primeira tentativa de pouso, Rodrigues teria citado a expressão “setor Eco”, o que significa uma curva para o leste. Numa segunda tentativa, ele teria comunicado que estava na “final”, um indicativo de que se preparava para pousar. Os áudios captaram, posteriormente, um barulho forte, que os investigadores suspeitam ser da colisão da asa com a água.

SONS – Segundo o chefe da Divisão de Operações, coronel Marcelo Moreno, o equipamento gravou os últimos 30 minutos de áudio do voo, o que inclui não só informações de voz, mas outros sons que serão importantes para a investigação. As gravações não registram sinais de pânico na aeronave.

Técnicos ainda estão fazendo o tratamento do áudio. Depois dessa etapa, os dados serão analisados. “Nós analisamos sons diferentes, em que possamos identificar, hipoteticamente falando, o ruído de um trem de pouso sendo baixado, a aplicação de algum grau de flap ou outro equipamento aerodinâmico da aeronave”, disse o coronel. A gravação de áudio também pode indicar um início de descida, por exemplo.

A memória possui quatro canais de áudio, sendo um do piloto, um do copiloto, um da área da cabine e o quarto do engenheiro de voo ou comissário. Os dados do chip foram baixados utilizando equipamentos e softwares do fabricante do gravador de voz.

O flexcable (cabo de conexão), que comunica os dados do chassi do gravador para a memória, estava molhado. Portanto, houve a substituição por outro novo, minimizando a possibilidade de um curto-circuito ou a perda de dados, caso tivesse sido utilizado o cabo contaminado pela água salgada.

O avião de matrícula PR-SOM saiu do Campo de Marte, na zona norte de São Paulo, com destino a Paraty, no litoral fluminense, na Quinta-feira passada. A aeronave levava o relator da Lava Jato no STF Teori Zavascki, o empresário Carlos Alberto Filgueiras, dono do Hotel Emiliano, a massoterapeuta Maira Lidiane Panas Helatczuk e a mãe dela, Maria Ilda Panas, além do piloto Osmar Rodrigues. Todos morreram.

O gravador da aeronave foi recuperado no resgate e chegou na manhã de sábado, 21, ao laboratório do Cenipa em Brasília. O equipamento foi encontrado pelos mergulhadores da Marinha na tarde de Sexta-feira (20).

Por estar submerso em água salgada, foi necessário realizar um procedimento de lavagem e conservação em água destilada para evitar corrosão e preservar os dados do gravador. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.