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A eleição americana poderia resultar em empate entre Hillary e Trump?

08/11/2016
A eleição americana poderia resultar em empate entre Hillary e Trump?

O número mágico é 270. É este o total de votos no Colégio Eleitoral que tanto Donald Trumpquanto Hillary Clinton querem alcançar no fim da eleição presidencial americana, nesta terça-feira.

Se algum deles obtiver esse número mínimos de votos, será proclamado presidente.

O Colégio Eleitoral é formado por 538 delegados. Ainda que seus nomes não apareçam nas cédulas eleitorais, é nesses delegados que os cidadãos americanos realmente votam.

Portanto, tudo o que um candidato precisa para ser eleito é a metade do número de delegados mais um (270).

No entanto, em dois cenários a situação poderia se complicar: no caso de empate ou se nenhum candidato obtiver o número mágico.

Representação indireta
O número de representantes de cada um dos 50 estados no Colégio Eleitoral se calcula em proporção ao de habitantes. A Califórnia, por exemplo, conta com 55 delegados, enquanto o Alaska conta com apenas três.

Normalmente, o candidato mais votado em cada estado leva todos os delegados. Em apenas dois – Nebraska e Maine – eles são divididos de forma diferente.

Como se daria um empate
É teoricamente possível que tanto Hillary quanto Trump obtenham 269 votos no Colégio Eleitoral. Ou que nenhum dos dois chegue aos 270 votos, mesmo que não estejam empatados. Isso aconteceria se um terceiro candidato vencesse algum estado – o que poderia ocorrer com o candidato independente Ewan McMullin em Utah, por exemplo.

Nesses dois cenários, a eleição presidencial ficaria a cargo da Câmara dos Deputados, que escolheria entre os três candidatos com mais votos no Colégio Eleitoral.

Neste estágio, diferentemente do Colégio Eleitoral, cada estado tem direito a apenas um voto cada.

Os votos do Colégio Eleitoral são contados em uma sessão especial do Congresso americano.

Para ser eleito, então, um candidato precisaria obter 26 votos, o que corresponde à metade do número de estados mais um.

Os analistas consideram que, se a situação chegar a esse cenário, é provável que o vencedor seja Trump, já que os republicanos contam com ampla maioria na Câmara dos Representantes. Ainda assim, é importante ressaltar que a votação seria realizada pela Câmara eleita nessa terça-feira, em paralelo à eleição presidencial, em que todas as 435 cadeiras da casa estarão em disputa.

Sendo assim, a composição partidária da casa poderia mudar.

Trump pode causar um empate se vencer em estados como Flórida, Iowa, Nevada, New Hampshire e Ohio.

E o vice-presidente?
Enquanto isso, o Senado ficaria encarregado de eleger o vice-presidente.

O senado americano é composto por 100 membros (34 cadeiras estão sendo disputadas nesta eleição). O novo vice precisaria, então, contar com o apoio de 51 senadores para assumir o cargo.

Isso é importante porque, se a Câmara dos Deputados não chegar a um acordo para eleger o presidente até o dia 4 de março, o vice assumiria o cargo.

Se o Senado também não chegar a uma conclusão, o presidente da Câmara seria o novo presidente dos Estados Unidos.

Os Estados-pêndulo e sua importância no caso de um empate
Se as eleições resultarem em um aparente empate, podem-se esperar dias de recontagem de votos e ações judiciais. Isso porque o empate no Colégio Eleitoral não significa que os candidatos tenham obtido a mesma quantidade de votos populares.

Hillary Clinton poderia ganhar na California, Nova York, no distrito de Columbia, Massachusetts e Maryland.

Para evitar essa possibilidade, os candidatos intensificaram seus esforços de campanha nos chamados Estados-pêndulo, aqueles em que o voto historicamente não está garantido nem para democratas ou republicanos.

Esses estados são Flórida, Ohio, Pensilvânia, Carolina do Norte, Iowa, Nevada, New Hampshire e Virginia.

O Arizona, estado tradicionalmente fiel aos republicanos também poderia ser incluído nessa lista, dado ao crescente peso do voto latino nesse estado – na teoria, mais favoráveis a Hillary por conta das polêmicas declarações feitas por Trump sobre latinos durante a campanha.

O mais desejado dos Estados-pêndulo é a Flórida, que tem 29 votos no Colégio Eleitoral.

A mídia e os institutos de pesquisas usam os dados desses estados para projetar a distribuição do mapa do Colégio Eleitoral e prever o vencedor da disputa.

O Washington Post apresentou dois cenários em que Hillary e Trump poderiam acabar com 269 votos cada:

Alguma vez na história já houve empate?
Tanto a situação de empate quanto a não obtenção dos votos necessários já ocorreram antes.

Em 1800, Thomas Jefferson e Aaron Burr tiveram o mesmo número de votos.

Jefferson era candidato à presidência e Burr seria o seu vice. Mas, naquela época, cada representante do Colégio Eleitoral tinha direito a dois votos. O candidato com mais votos era eleito presidente e o segundo colocado assumia a vice-presidência.

Thomas Jefferson, um dos fundadores dos Estados Unidos, empatou com Aaron Burr em 1800 e teve que ser eleito pela Câmara dos Representantes.

O plano do então partido Democrata-Republicano era de que todos os delegados votariam em Jefferson e Burr, menos um deles, que votaria somente em Jefferson e não votaria em Burr.

O plano não saiu como esperado e o resultado foi um empate, resolvido pela Câmara de Representantes, em favor de Jefferson.

Em 1824, nenhum dos quatro candidatos recebeu quantidade suficiente de votos para vencer as eleições.

A Câmara acabou elegendo John Quincy Adams, apesar de o rival Andrew Jackson ter obtido mais votos no Colégio Eleitoral.

A probabilidade da repetição de um cenário assim no embate entre Hillary e Trump é mínima, mas não totalmente descartável.

Se ela ocorrer, será resolvida da mesma forma que há dois séculos.