Política

Vereador mais votado de Palmeira ainda se recupera de acidente

13/10/2016
Vereador mais votado de Palmeira ainda se recupera de acidente
Val Enfermeiro foi o vereador mais votado na eleição deste ano, com 1.938 votos. (Foto: Lucianna Araújo/Tribuna do Sertão)

Val Enfermeiro foi o vereador mais votado na eleição deste ano, com 1.938 votos. (Foto: Lucianna Araújo/Tribuna do Sertão)

O palmeirense Rosivaldo Torres Duarte, 45 anos, mais conhecido como “Val Enfermeiro”, do PMN, é na verdade um técnico de enfermagem. Ele trabalha na Unidade do Agreste (UE), em Arapiraca e no Centro de Atendimento Psicossocial (Caps) do bairro do Xucurus, em Palmeira dos Índios, que faz atendimento a pacientes com transtornos mentais. Esta foi a terceira vez que ele se candidatou a um cargo na política, a partir de convite de amigos. Dias antes da votação que o elegeu como o vereador mais bem votado deste pleito no município, Val sofreu um acidente de moto e não chegou a ir às urnas para votar. Com um trabalho também voltado para o assistencialismo, Val diz que vai honrar cada voto conquistado e ser, de fato, um representante do povo palmeirense na Câmara municipal.

Tribuna do Sertão (T.S.) – Como o senhor encara a vitória expressiva nesta eleição?

Val Enfermeiro (V.E.) – Na política é preciso ser um pouco ardiloso, ter um jogo de cintura e isso não combina comigo e nem me agrada. A política deveria ser feita por pessoas produtivas e que pudessem ajudar à comunidade, de maneira geral. Fui candidato três vezes: a primeira vez em 2000, a convite do saudoso Albérico Cordeiro, pelo PHS, e perdi. Em 2012, fui candidato pelo PMDB, tive 658 votos e também perdi. Mas foi um sucesso tremendo. E de lá para cá não quis saber mais de política. Mas este ano resolvi encarar de novo a política. Vejo com muito orgulho, principalmente da população de Palmeira, essa votação. Foram quase dois mil votos. Recebi pouca ajuda e não tinha dinheiro para colocar a campanha nas ruas. Mas posso garantir que de mim nunca saiu dinheiro para nenhum eleitor. Isso eu garanto. Queria até pedir ajuda pelas redes sociais, para quem quisesse doar santinhos ou fazer outro tipo de ajuda, me procurasse, mas acabei não fazendo por causa da correria. Mesmo assim, os meus amigos acabaram me ajudando. Tive votos em todas as urnas de Palmeira. Então, minha responsabilidade e o meu agradecimento é para todos.

T.S. – De que forma o senhor trabalhou na campanha que o fez conquistar quase dois mil votos?

V.E. – Eu fui eleito através de um trabalho social que faço há 26 anos. Acredito que foi isso. Trabalho na área de enfermagem, fiz muitas amizades e conheci muita gente. O meu trabalho, remunerado, fez com que eu passasse muita confiança para as pessoas. Mas o trabalho social também. Faço curativos nas casas das pessoas, aplico injeções, dou medicamentos, presto socorros a pessoas que necessitam, sem ter dia e nem hora para isso. E sem cobrar nada, sem me importar com a hora que eles me chamam, seja pelo dia ou à noite, muitas vezes deixando a minha família de lado, em cima de uma moto, com uma bolsa com o material necessário nas costas. Às vezes, as pessoas fazem questão de retribuir com pagamento, porque se sentem felizes ao serem ajudadas. Sempre fiz isso porque gosto. Porque sou um homem bom e gosto de cuidar das pessoas, mas não para receber nada em troca.

“Vejo com muito orgulho, principalmente da população de Palmeira, essa votação. Foram quase dois mil votos”.

T.S. – O senhor acha que o acidente que sofreu sensibilizou o povo a votar no Val Enfermeiro?

V.E. – O acidente me trouxe uma coisa boa: a divulgação de que eu era candidato. Mais uma vez, como em 2012, eu não estava conseguindo fazer campanha. As pessoas sempre falavam que tinham votado em mim quando fui derrotado, e que agora votariam para a minha vitória. Só que naquele momento, mesmo com uma campanha mediana, eu tinha consciência de que conquistaria uns 1400 votos, por aí. Politicamente meu coração é aberto. O voto dado a mim foi de amor, de gratidão e não perdi popularidade, só ganhei. Desta vez, minha família estava toda do meu lado e isso aumentou a minha chance. Eles me ajudavam com combustível ou com alguma coisa que eu precisasse na campanha. A morte do nosso Targino também me trouxe votos. Infelizmente ele se foi e os eleitores dele, que são semelhantes aos meus, acabaram votando e mim. Assim como os eleitores da Sheila Duarte, que são as mesmas pessoas de bairros carentes, e também os eleitores do doutor Márcio. Como ele foi concorrer à vice-prefeitura, os eleitores dele também devem ter votado em mim. Colegas de profissão também votaram em mim, além de moradores da zona rural. Mesmo assim, meu nome não era totalmente conhecido. E o acidente possibilitou isso.

T.S. – De que forma o senhor pretende aliar os seus trabalhos como técnico de enfermagem e de assistencialismo com a política?

V.E. – Acho que vai até facilitar. Não quero ser um servidor ou trabalhar só com a causa social. Eu quero legislar. Acho que a gente só vai mudar alguma coisa, e o meu intuito é esse, quando fizermos algo em benefício da população e deixarmos algo de concreto para ela. Quero participar das melhorias para as comunidades, mas não deixarei nunca de lado o meu trabalho social. Tenho um grupo de amigos chamado “Fazer o bem sem olhar a quem”. Nesse grupo temos o apoio de uma escola de cabeleireiros, que forma alunos, pertencente ao Lima Studio e sua esposa Luana. Fazemos uma parceria nisso, mas às vezes nos falta incentivo para realizar esse trabalho. Então, com a política, eu posso ter mais acessos às pessoas para que elas doem o material que precisamos. Às vezes faltam mesas, cadeiras, tendas, ou um serviço de som para colocarmos o trabalho em prática, que alia beleza e saúde. Buscarei auxílio para isso e outros projetos. Sei que na prefeitura faltam materiais para serem utilizados na área de saúde para ajudar os que mais precisam. Há um descontrole. Umas vezes por falta de organização da gestão e outras porque pessoas com condições pegam materiais que deveriam servir para os mais carentes. Eu, nessa cama, deitado, recebo ligações de pessoas que dizem que não têm material, que não têm nada que possa ajudar, seja remédio ou curativo. E eu daqui fico ligando para um ou outro amigo para ajudar nisso. E espero que a política possa melhorar essa situação. Sou pequeno, mas quero ser um professor. Quero ensinar à população a não só andar atrás do político, mas por outro lado, quero auxiliar os políticos a prestar favores sem querer nada em troca. Ajudar porque a população realmente precisa. Meu sonho é que, aos poucos, as pessoas tenham dignidade, mas com trabalho.

T.S. – Você pretende fazer oposição à administração municipal, em 2017, ou vai trabalhar lado a lado com o prefeito?

V.E. – Sempre pensei que a gente não deve atirar pedras no fruto que não conhece. Minha candidata à prefeita era a Sheila Duarte, que não chegou lá porque os votos de Sheila eram os mesmos de Júlio. Como o Júlio partiu de uma campanha anterior e no decorrer da campanha já estava com uma expressiva porcentagem em cima dos concorrentes, ele venceu. Não era a hora da Sheila. O Júlio é meu amigo de longas datas, estudei com ele, tenho um amigo jornalista, o Josenildo Torres, que também é amigo dele e também estudou com ele. E doutor Márcio nem se fala. Já o apoiei para prefeito e tenho uma amizade boa com ele. Serei oposição na hora que eu achar que é preciso, mas vou sim trabalhar lado a lado com eles. Mas creio em Deus que faremos um bom trabalho. Não quero que sejam cortados os projetos que já existem aí. Precisamos melhorá-los e terminar de construir o que o atual prefeito já começou.  O James teve aliados políticos fortes que o beneficiaram a construir casas, creches, estradas. Falta estregar muitas residências. Palmeira precisa das casas, mas precisa que elas tenham estrutura, qualidade de vida e emprego. Sei que não tem condições de ser feito um PSF em determinados conjuntos habitacionais, porque o governo federal tem um numero de habitantes definido para a implantação de uma unidade de saúde, a não ser quando as outras casas foram entregues. Mas podemos melhorar a UPA e reabrir a emergência do Hospital Santa Rita. E isso, esperamos que a nova gestão possa realizar. Não quero levar o meu povo sofrendo para ser atendido em Maceió ou Arapiraca. Temos que trata-los aqui. Temos que elevar a autoestima do hospital e que ele volte a atender como antes. Para isso, é preciso alugar os consultórios, dar empregos, gerar empregos e atender melhor à população. Isso gera renda para o município também.

“Não quero levar o meu povo sofrendo para ser atendido em Maceió ou Arapiraca. Temos que trata-los aqui”.

T.S. – Com o vai ser a sua atuação na Câmara de Vereadores de Palmeira dos Índios?

V.E. – Algumas pessoas me alertaram para que eu tivesse cuidado, pois muitos vereadores só trabalham para os seus grupos e para seus próprios interesses. E eu sempre respondia que se eu não conseguir fazer nada lá dentro, vou fazer por fora. Enquanto eu estiver lá, brigando por salários e melhorias para a população, estarei junto com as comunidades. A minha vontade é de trabalhar junto com as associações, promover a criação delas e estar mais perto do povo, fazer associações de produtos recicláveis para diminuir o lixo para a natureza, também formar associação de empregadas domésticas, com uma associação de empregos, com capacitação e cursos, para que quando alguém precise de um profissional, seja para uma diária, ou efetivo, ele possa ir oferecendo segurança para quem o contrate. Precisamos de uma associação para deficientes também e fomentar a cultura com um calendário cultural permanente, com festas religiosas e tradicionais que estão esquecidas. Os sonhos são enormes, mas são totalmente viáveis.

T.S. – O que o senhor pode dizer aos seus 1.938 eleitores que esperam vê-lo na Câmara em 2017?

V.E. – Que tudo isso é um motivo de muito orgulho e felicidade. Fui eleito sem comprar voto e sonho com o dia em que as pessoas saiam de casa e votem porque querem um representante e não porque recebeu algo em troca. As pessoas precisam votar em quem confia e não porque vendeu o voto. Quero dizer aos meus eleitores, e até os que não votaram em mim, que em breve estarei recuperado, se Deus quiser, e que eles não vão se arrepender da confiança depositada em mim. Quero estar lá para empossar o novo prefeito e abrir os trabalhos da mesa diretora. Agradeço ao jornal Tribuna do Sertão pela oportunidade de falar um pouco para os meus eleitores.

Val ainda se recupera do acidente sofrido poucos dias antes da votação que o elegeu vereador. (Foto: Lucianna Araújo/Tribuna do Sertão)

Val ainda se recupera do acidente sofrido poucos dias antes da votação que o elegeu vereador. (Foto: Lucianna Araújo/Tribuna do Sertão)