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Trump ainda tem chance?

18/08/2016
Trump ainda tem chance?
(Foto: Divulgação)

(Foto: Divulgação)

Com uma liderança de seis pontos percentuais na média das pesquisas mantida pelo site Real Clear Politics e margens seguras em estados críticos como Pensilvânia, Virgínia ou Flórida, a candidata democrata Hillary Clinton ampliou seu favoritismo a conquistar a Presidência dos Estados Unidos nas últimas semanas. Será que o republicano Donald Trump ainda tem chance de virar o jogo nos dois meses e meio que faltam para as eleições?

Nesta semana, Trump deu uma reviravolta em sua campanha. O marqueteiro Paul Manafort foi tirado do comando, depois das denúncias de ter recebido US$ 12,7 milhões em dinheiro vivo do partido ucraniano ligado ao presidente russo, Vladimir Putin. Para liderar a campanha, Trump nomeou Stephen Bannon, do site Breitbart News.

Manafort é conhecido como um operador das sombras em Washington. Quando os políticos que assessora são eleitos, costuma ser contratado por grupos de interesse para facilitar o acesso ao governo. Fora contratado para conferir algum grau de profissionalismo a uma campanha marcada pela imprevisibilidade de Trump e pelo caráter polarizador e desastrado de várias declarações dele.

Bannon tem um perfil mais ideológico. Ex-banqueiro do Goldman Sachs, fez documentários de propaganda conservadora (um deles sobre a ex-candidata a vice Sarah Palin) e transformou o Breitbart num dos alicerces da propaganda pró-Trump. Sua estratégia deverá se concentrar na mensagem populista, contra os imigrantes e a elite, em estados de populações expressivas do eleitorado branco, operário e sem nível universitário, como Pensilvânia, Virgínia ou Ohio.

Com foco nas ameaças da violência e do terrorismo, Trump pretende ampliar sua liderança nesse eleitorado mais conservador, as maiores vítimas da globalização e das ideias sempre defendidas por Hillary e postas em prática no governo de seu marido, Bill Clinton. A maior aposta de Trump para virar o jogo entre os indecisos são os debates eleitorais, previstos para começar em setembro. Ele contará na preparação com a inestimável ajuda de Roger Ailes, o criador da Fox News, demitido por Rupert Mudoch depois de acusações de assédio sexual.

Ailes foi o principal assessor nas campanhas vitoriosas de Richard Nixon e George Bush pai à Presidência, além de ter preparado Ronald Reagan para os debates em que consolidou sua liderança sobre Jimmy Carter e conquistou a Casa Branca. A presença dele pode ser decisiva para ajudar Trump a recuperar a popularidade, prejudicada por uma série de declarações desastradas, como seu desdém diante depoimento emocionante, na Convenção Democrata, do pai de um soldado muçulmano morto no Iraque.

Não é impossível que a chacoalhada na campanha e os debates melhorem os índices de Trump. É impossível saber se o noticiário trará novas denúncias contra Hillary, como os e-mails vazados recentemente pelo site Wikileaks com revelações sobre o favorecimento a ela no Comitê Nacional Democrata. Esses são fatores ainda imponderáveis, cujo efeito pode ser também decisivo.

Há um grande grau de incerteza numa eleição com um candidato populista como Trump, que diz o que lhe dá na telha sem se preocupar com o efeito efeito eleitoral. É impossível captar tal incerteza nas pesquisas. Várias eleições americanas registram mudanças expressivas nos números entre agosto e a data do pleito.
 
Em 1980, a eleição estava empatada a esta altura. Graças à competência nos debates – e à assessoria de um ás do marketing político como Ailes –, Reagan venceu com uma margem superior a dez pontos percentuais no voto popular. O site FiveThirtyEight calculou a diferença entre as pesquisas a esta altura da campanha e o resultado final das eleições desde 1952. O resultado, quase cinco pontos, é mais que suficiente para embolar o quadro atual.

Hillary é, desde o início, a favorita. Trump é, desde o início, o azarão. Nada disso mudou. A única novidade é que, até agora, ele cometeu mais erros que ela. Isso prejudicou sua posição no jogo eleitoral. As mudanças desta semana são uma tentativa de dar à campanha uma cara mais parecida com Trump: ainda mais populista, ainda mais desbocada e ainda mais ofensiva. Aparentemente, ele apenas insiste nos mesmos erros que afastam o público que precisa conquistar. Mas, com Trump, o resultado é sempre imprevisível.