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Britânicos decidem futuro do Reino Unido em plebiscito

23/06/2016
Britânicos decidem futuro do Reino Unido em plebiscito
David Cameron diz que, se optar pela saída da União Europeia, Reino Unido ficará isolado. (Foto: Agência Efe)

David Cameron diz que, se optar pela saída da União Europeia, Reino Unido ficará isolado. (Foto: Agência Efe)

Na votação mais importante para o Reino Unido nos últimos 40 anos, a população britânica vai às urnas nesta quinta-feira (23/06) para decidir pela permanência ou saída do país da União Europeia.

O eleitorado britânico deverá responder à pergunta “Deve o Reino Unido permanecer como membro da União Europeia ou deve abandonar a União Europeia?”. Os votantes poderão escolher entre “permanecer” ou “sair”.

O plebiscito – popularmente conhecido como “Brexit”, um acrônimo inglês formado pela união de “Britain” (Grã-Bretanha) e “exit” (saída) – remonta a uma votação similar em 1975, quando 67% dos britânicos optaram por continuar na então CCE (Comunidade Econômica Europeia), à qual haviam aderido dois anos antes.

A União Europeia, fundada em 1993, nunca perdeu um de seus 28 Estados-membros. Uma eventual saída do Reino Unido seria considerado um elemento enfraquecedor para o bloco.

Para o professor de Relações Internacionais da UnB (Universidade de Brasília) Virgílio Arraes, a estagnação econômica da Europa nos últimos anos foi um fator que impulsionou a campanha a favor da saída britânica da UE.

“Em tempos de crise a solidariedade política diminui”, afirmou a Opera Mundi o especialista, que vê uma “precipitação do Reino Unido em propor essa saída”.

Arraes lembra que até mesmo a Grécia, um membro com “menos porte” do que o Reino Unido e que cogitou sair da UE em 2012, sofreu uma série de pressões para que permanecesse no bloco.

Do ponto de vista político, Arraes considera que uma eventual saída do bloco teria um efeito “desastroso”. “É como se um dos membros, ainda que em uma posição diferente até por conta da moeda, rejeitasse um esforço de 50 anos”.

Pressões para a saída

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, convocou o plebiscito em resposta a pressões que vinha sofrendo para levar a permanência do Reino Unido no bloco a voto popular. 

Tanto membros do Partido Conservador de Cameron quanto opositores argumentavam que, desde o referendo de 1975, os britânicos não tiveram mais chance de se manifestar sobre a permanência do país no bloco europeu.

As pressões aumentaram com o crescimento eleitoral do partido nacionalista e ultradireitista UKIP (Partido pela Independência do Reino Unido), que defende o distanciamento político britânico em relação a Bruxelas.

O coordenador do curso de Relações Internacionais da UFABC (Universidade Federal do ABC), Giorgio Romano, disse a Opera Mundi que um possível desligamento seria “um desastre do ponto de vista econômico”, além de “reforçar o nacionalismo” no Reino Unido.

O ministro da Economia britânico, o conservador George Osborne, afirmou que a vitória do “Brexit” causaria um rombo nas contas públicas de 30 bilhões de libras, o equivalente a cerca de 150 bilhões de reais.

O rombo, segundo Osborne, levaria a um período de austeridade e acarretaria aumento de impostos e cortes em setores como saúde, educação e defesa. As projeções foram criticadas por parlamentares de seu partido, que acusaram Osborne de fazer “ameaças vazias”.

Na avaliação de Arraes, Cameron não esperava, ao propor o plebiscito, que a pressão popular para a saída do bloco fosse tão grande. A mudança, segundo ele, veio com a emergência dos refugiados, a maior da história no continente europeu, que levou ao aumento do discurso anti-imigração na região.

“O que não estava no cálculo de Cameron era a questão da imigração e dos refugiados. Se ele soubesse disso, jamais teria convocado o plebiscito”, acredita.

Além da crise dos refugiados, o professor aponta que a questão da identidade influencia os britânicos, que “se veem diferentes do resto do continente”.

Se a população optar pela saída da União Europeia, Cameron estará sob pressão para implementar a proposta. A matéria poderia ser bloqueada pelos parlamentares, mas contrariar a vontade dos eleitores poderia custar a popularidade dos conservadores, que atualmente controlam o Parlamento britânico.

Nesse sentido, segundo Arraes, o processo já apresenta algumas consequências. “Independentemente do resultado, [o plebiscito] é uma derrota de [David] Cameron e da União Europeia”, aponta.