Política

Lava Jato: US$ 800 milhões já foram bloqueados na Suíça

21/03/2016
Lava Jato: US$ 800 milhões já foram bloqueados na Suíça
Policiais cumprem mandados de busca e apreensão na 24ª fase da Lava Jato, no início do mês (Foto: Marcos Bezerra/Futura Press)

Policiais cumprem mandados de busca e apreensão na 24ª fase da Lava Jato, no início do mês (Foto: Marcos Bezerra/Futura Press)

Com mais de mil contas a serem investigadas e o maior volume de dinheiro já bloqueado pelas autoridades locais, o Ministério Público da Suíça criou a maior operação anticorrupção de sua história e uma força-tarefa própria para investigar os crimes ligados à Operação Lava Jato.

E o resultado surpreende: o esquema de desvios na Petrobras já é o maior escândalo de corrupção identificado no sistema financeiro do país europeu, superando casos envolvendo ditadores de longa data e mesmo o recente episódio da Fifa.

País que registra os depósitos de um terço da fortuna mundial privada, a Suíça tem em seus bancos cerca de US$ 2,8 trilhões em ativos. Nos escritórios da Procuradoria em Lausanne e em Berna, o caso envolvendo a estatal brasileira vem ocupando um espaço considerável.

A complexidade das estruturas bancárias montadas para esconder o dinheiro elaborada por empresas e políticos brasileiros fez os suíços darem um tratamento inédito à investigação. Além de mais de cinco procuradores, a Lava Jato suíça vai contar com analistas forenses do mercado financeiros, especialistas em cooperação internacional, membros da polícia criminal e funcionários da administração federal.

O grupo terá a função de examinar e tentar traçar a origem e destino de milhares de movimentações bancárias em mais de mil contas. Para complicar a tarefa, os ativos estão espalhados por mais de 40 bancos diferentes, em Genebra, Zurique e Lugano. Para um dos procuradores envolvidos na investigação, os dados já coletados são a “caixa-preta de um dos maiores escândalos de corrupção que já foi identificado no mundo”.

Até agora, mais de US$ 800 milhões já foram bloqueados em conexão com a Lava Jato. Parte desses recursos estava vinculada a ex-diretores da Petrobras, empresas controladas pela empreiteira Odebrecht, doleiros, intermediários de diferentes partidos brasileiros e políticos, como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Os valores congelados superam todos os demais casos já investigados pelos suíços. Até hoje, o recorde havia sido o congelamento, em 1998, de US$ 650 milhões em nome de Ferdinand Marcos, das Filipinas, em preços atualizados. Nos anos 1990, o ditador nigeriano Sani Abacha teve US$ 620 milhões bloqueados nos bancos suíços.

O ex-ditador egípcio Hosni Mubarak, derrubado na Primavera Árabe, foi vinculado a US$ 410 milhões congelados pelas autoridades do país europeu. Mais recentemente, o escândalo de corrupção da Fifa levou à suspeita sobre cerca de 110 contas, com US$ 80 milhões bloqueados em dezembro – um décimo do que já foi descoberto relacionado à Lava Jato, como comparou uma fonte do Ministério Público em Berna.

Padrões
No caso brasileiro, os investigadores suíços identificaram alguns padrões e peculiaridades. Contas de políticos, empresas e intermediários mudaram de bancos depois de um determinado tempo e doleiros chegavam a ter os códigos para movimentar os recursos.

A rede de contas ainda faz parte do inquérito sobre os pagamentos da Odebrecht, por meio de empresas offshore. O que também fica claro é a preferência dos suspeitos por “trusts”, uma estrutura legal autorizada pelas leis locais que acaba sendo usada para esconder os verdadeiros donos de contas.

Diante das descobertas, a Suíça ainda passou a investigar suas próprias instituições, para avaliar se não houve cooperação indevida ao abrir centenas de contas de pessoas cuja renda oficial não justificava os depósitos feitos nos bancos. Pelo menos três instituições financeiras estão sendo alvo de inquéritos, inclusive pela agência de regulação dos bancos.

À reportagem, a Associação de Bancos Suíços confirmou que as instituições foram instruídas a não aceitar mais qualquer abertura de contas de diretores da Petrobras ou de empresas fornecedoras da estatal.