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Expressividade quilombola se destaca no artesanato de Dona Irinéia

18/03/2016
Expressividade quilombola se destaca no artesanato de Dona Irinéia
Em 2015 esculturas da artesã foram levadas para Itália, a convite da Expo Milão, uma feira que reúne obras de arte de 140 países (Foto: André Palmeira)

Em 2015 esculturas da artesã foram levadas para Itália, a convite da Expo Milão, uma feira que reúne obras de arte de 140 países (Foto: André Palmeira)

Os traços quilombolas moldados no barro não negam a ancestralidade da artesã. Nascida no mítico povoado Muquém, que abriga descendentes dos negros do Quilombo dos Palmares, a mestre artesã Patrimônio Vivo de Alagoas, Dona Irinéia, não imaginava que levaria para o mundo os contornos expressivos dos seus ancestrais.

Aos vinte anos, Irinéia Rosa Nunes começou a ajudar sua mãe a moldar panelas de barro para colaborar no sustento da família, 18 anos passaram junto com um casamento e uma separação quando Irinéia conheceu Antonio Nunes, vulgo Toinho.

O novo romance trouxe para vida da artesã novas possibilidades para a lida com o barro, os objetos utilitários feitos até então, como jarros e panelas, seriam substituídos por esculturas com incontestável valor artístico.

 

“Ele também mexia com barro quando era jovem. O pai de Toinho fazia telha e ele ajudava no acabamento. Depois que a gente se casou ele começou a ir buscar barro ali no barreiro e a gente começou a fazer algumas coisas além de panela e jarro. É que o povo encomendava mão de barro, cabeça e outras partes do corpo pra poder pagar promessa. E a gente fazia tudo”, explicou a artesã.

Para Dona Irinéia foram os pedidos dos fiéis que pagavam promessas em Juazeiro, no Ceará, que fizeram sua “imaginação acontecer”. A partir desse momento, a artesã passou a moldar o barro com a inventividade de quem esculpe criaturas habitantes do imaginário quilombola, adensado de liberdade e força.

“Eu não tinha noção de fazer nada com o barro usando a minha mente, aí foi que Deus me mostrou a minha arte e graças a ele deu certo. Quando estou longe do barro não estou feliz. É ele que faz a minha imaginação acontecer, ele é a minha vida”, disse a artesã.

 

Atualmente, aos 67 anos, Dona Irinéia tem 35 anos de ofício. Em 2004, ficou entre as dez finalistas do Prêmio Unesco de Artesanato da América Latina. Em 2005, foi reconhecida como patrimônio vivo de Alagoas, desde então suas esculturas se tornaram conhecidas em todo país, frequentando exposições em galerias em cidades como Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Em 2015 esculturas da artesã foram levadas para Itália, a convite da Expo Milão, uma feira que reúne obras de arte de 140 países.

Semana do Artesão

As peças de Dona Irinéia podem ser vistas e adquiridas na exposição da Semana do Artesão, no Memorial à República, em Jaraguá. O evento, que começou nesta quinta-feira (17), foi preparado pela Secretaria e Desenvolvimento Econômico e Turismo (Sedetur) para celebrar a arte feita à mão de Alagoas.

Nesta sexta-feira (18), será realizada a oficina de renda Bilro, das 14h às 20h, ministrada pela artesã Dona Maria, do município de São Sebastião. Dona Maria é filha de Clarice, falecida em 2012 e que já foi considerada Patrimônio Vivo do Estado de Alagoas.

No dia 21, das 10h às 17h, acontece uma oficina de Filé sob o comando dos profissionais da Associação das Artesãs do Pontal da Barra. A última oficina programada é a de Cerâmica, com o mestre João das Alagoas, agendada para terça-feira (22). Todas as oficinas são gratuitas e as inscrições serão feitas no local.

 

Durante toda a semana, a população poderá visitar a exposição das peças com as principais tipologias do artesanato alagoano, no hall principal do Memorial à República, das 9h às 20h. Para comercialização dos produtos, a loja itinerante Alagoas à Mão estará no local durante todo o evento.

O evento conta com a participação da feira gastronômica Carro Chef Food Trucks, sempre das 17h às 21h.