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Mostra reúne 200 imagens de fotógrafos soviéticos no Memorial da América Latina

05/01/2016
Mostra reúne 200 imagens de fotógrafos soviéticos no Memorial da América Latina

 

to que integra exposição no Memorial da América Latina (Imagem de divulgação)

Foto que integra exposição no Memorial da América Latina (Imagem de divulgação)

Algumas das fotos que compõem a exposição União Soviética Através da Câmera foram publicadas em grandes jornais, outras passaram décadas guardadas antes de chegar ao público.

São, ao todo, 200 imagens feitas por seis fotógrafos da geração que começou a retratar a antiga potência comunista na década de 1950. A mostra será aberta na noite de hoje (5) no Memorial da América Latina, zona oeste da capital paulista.

“O que muitas das fotos que estão na exposição demonstram é que os próprios fotógrafos sabiam que as fotografias não iam passar pela censura. Então, eles nem enviavam essas fotos para as agências e elas permaneciam em um acervo pessoal”, explica o curador da mostra, Gustavo de Carvalho. As imagens só puderam ser divulgadas a partir da abertura promovida por Mikhail Gorbachev, na década de 1980.

Em comum, os seis nomes representados na exposição têm a negação do período stalinista pela estética construtivista.

“Eles quase que prestam uma homenagem a essa estética construtivista, que nasceu com a Revolução Russa e foi esmagada por [Josef] Stalin, por achar que ela não servia à ideologia soviética”, ressalta o curador sobre o movimento que tem como característica o trabalho com as formas geométricas. Entre os expoentes do construtivismo estão o artista plástico Alexander Rodchenko e o cineasta Sergei Eisenstein.

No entanto, Viktor Akhlomov, Yuri Krivonossov, Antanas Sutkus, Vladimir Lagrange, Leonid Lazarev e Vladimir Bogdanov apresentam olhares distintos sobre a sociedade soviética.

“Esse olhar subjetivo é uma das poucas coisas que a censura soviética não conseguiu proibir. Assim como a extensão geográfica do país faz com que, muitas vezes, um olhar sobre o mesmo tema seja completamente diferente ou antagônico”, acrescenta Gustavo de Carvalho.

O único não russo entre os fotógrafos, o lituano Antanas Sutkus, traz um contraponto ao trabalho dos colegas. “Funciona na exposição como o negativo de toda essa realidade soviética. Toda a obra dele se destaca do trabalho dos outros cinco fotógrafos porque se constitui como um testemunho de um país que tinha uma cultura própria e foi ocupado pela União Soviética”, explica Carvalho.

Como a fotografia não era entendida como uma arte que comportava o mesmo nível de subjetividade do cinema, o curador conta que foi possível que os artistas levassem para os jornais e revistas soviéticos um olhar humanista sobre o cotidiano do país “em que se vê admiração e respeito pelo ser humano”, enfatiza sobre a produção com imagens tanto da capital, Moscou, quanto do interior camponês.

Além de apreciar o trabalho dos artistas, Carvalho acredita que o público também terá a oportunidade de conhecer mais sobre a cultura do leste europeu. “Mesmo não sendo o intuito principal da exposição, é uma oportunidade interessante para o público brasileiro conhecer cenas de uma cultura que é tão longínqua. Acho que cumpre também esse papel de mostrar como essas pessoas viviam naquela época”.