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África Ocidental livre da epidemia de ebola mais mortal da história

14/01/2016
África Ocidental livre da epidemia de ebola mais mortal da história
(Foto: AFP)

(Foto: AFP)

A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciará nesta quinta-feira o fim da epidemia de Ebola na África Ocidental, que deixou mais de 11.000 mortos em dois anos, quando a Libéria será declarada livre da doença.

O anúncio de Genebra “marcará 42 dias desde que os últimos casos do Ebola deram negativo na Libéria”, afirmou nesta quarta-feira a OMS em comunicado, dois anos depois da explosão da epidemia na África Ocidental.

A epidemia de Ebola na África Ocidental foi a mais letal desde a identificação do vírus há 40 anos, com pelo menos 11.000 vítimas.

O problema foi detectado em dezembro de 2013 no sul da Guiné e se propagou aos países vizinhos, Libéria e Serra Leoa, e depois para Nigéria e Mali.

Em dois anos a epidemia afetou dez países, entre eles Espanha e Estados Unidos, e oficialmente causou a morte de 11.315 dos 28.637 contagiados.

Este balanço oficial, abaixo da realidade, segundo várias fontes, inclusive a OMS, supera a soma das vítimas de todas as epidemias de Ebola desde a identificação do vírus em 1976 na África Ocidental.

Serra Leoa foi declarada livre do Ebola em 7 de novembro de 2015 e a Guiné em 29 de dezembro passado.

Na quinta-feira “às 7h (de Brasília) a Libéria será declarada livre do Ebola pela OMS”, disse à AFP o secretário-executivo do ministério da Saúde liberiano, Tolbert Nyensuah.

Sem dúvidas persiste o risco de novos focos de epidemia devido à subsistência do vírus em alguns líquidos corporais de sobreviventes, em particular no esperma.

Assim ocorreu na Libéria, que havia sido declarada livre do Ebola em maio e, depois, em setembro – mas a cada vez eram registrados ressurgimentos.

No paroxismo da epidemia, cenas apocalípticas foram registradas, particularmente na Libéria, que “viu ameaçada sua própria existência”, disse na ONU o ministro da Defesa, Brownie Samukai.

É uma doença que “se espalha como um incêndio florestal, devorando tudo em seu caminho”, ilustrou Samukai.

Em Balajah, perto da fronteira com Serra Leoa, Fatu Sherrif, de 12 anos, e sua mãe, doentes de ebola e confinadas em casa por ordem sanitária, morreram sem que os vizinhos, aterrorizados pela doença desconhecida, respondessem a seus pedidos de socorro.

Em setembro de 2014, perto de Monróvia, o chefe de uma equipe da Cruz Vermelha, que recolhia cadáveres altamente contagiosos, criticou a postura dos vizinhos que haviam informado sobre a presença de uma idosa doente.

“Antes de nos chamarem, é preciso garantir que a pessoa está morta. Quem cuida dos doentes são outros”, disse o chefe da equipe.

“Sim senhor. Chamaremos vocês quando ela estiver morta”, respondeu o chefe do bairro.

“Esta epidemia destrói nosso tecido social”, alertou o ex-jogador de futebol liberiano George Weah, fundador de uma ONG para lutar contra o ebola.

A doença transformou o modo de vida dos países afetados, cujos habitantes foram obrigados a evitar qualquer contato físico entre eles e com os mortos.

Este último foi muito resistido pelas populações apegadas aos ritos funerários que implicam em lavar o corpo dos mortos.

Em outubro de 2014, o governo da Libéria teve que emitir a drástica ordem de incinerar todos os cadáveres, independentemente da causa da morte.

Os serviços de saúde, sobrecarregados pela catástrofe, multiplicaram as medidas de exceção – como decretar a quarentena em regiões inteiras.

Em setembro de 2014 e em março de 2015, o governo de Serra Leoa decretou o confinamento obrigatório de toda a população em suas casas durante três dias.

Em alguns lugares a população se rebelou violentamente contra medidas de prevenção mal explicadas e decisões percebidas como autoritárias.

As manifestações mais violentas foram registradas na Guiné, país onde existe uma grande desconfiança entre o poder e a população, e culminaram com a morte em setembro de 2014 de uma equipe de sensibilização em Womey, no sul, epicentro original da epidemia.

A propagação fulminante da epidemia deve-se não apenas à fraca “vigilância epidemiológica e a um sistema de saúde deficiente, mas também ao ceticismo das pessoas com relação ao que o governo pedia que fizessem”, apontou um informe do International Crisis Group (ICG).