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Feira de São Cristóvão completa 70 anos de tradições nordestinas no Rio

13/09/2015
Feira de São Cristóvão completa 70 anos de tradições nordestinas no Rio
O início das atividades da Feira de São Cristóvão teria sido no ano de 1945 quando os pracinhas desembarcaram nas imediações do Campo de São Cristóvão, diz historiadora

O início das atividades da Feira de São Cristóvão teria sido no ano de 1945 quando os pracinhas desembarcaram nas imediações do Campo de São Cristóvão, diz historiadora

O pedacinho do nordeste no Rio de Janeiro completa 70 anos este mês. No dia 18 de setembro, a Feira de São Cristóvão – Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, também chamada de Feira dos Nordestinos, celebra sete décadas mantendo viva a cultura dos imigrantes que chegavam ao bairro da zona norte da cidade desde a década de 1940.

Atualmente são cerca de 700 barracas e 100 restaurantes com produtos típicos do norte e nordeste, mas o começo foi bastante informal. A professora de história da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Sylvia Nemer resgatou os folhetos de cordéis e histórias orais sobre a Feira de São Cristóvão para seu doutorado e tem um livro publicado sobre o tema. De acordo com ela, a versão oficial conta que o cordelista Raimundo Santa Helena leu no dia 18 de setembro de 1945, no Campo de São Cristóvão, um cordel que tinha feito sobre o fim da Segunda Guerra Mundial.

“O início das atividades da Feira de São Cristóvão teria sido no ano de 1945 quando os pracinhas desembarcaram nas imediações do Campo de São Cristóvão e o próprio Santa Helena leu um cordel que tinha feito para comemorar o fim da guerra. E aí, em função dessa leitura, começou a surgir um movimento de pessoas interessadas em ouvir e vender literatura de cordel. Então a feira teria começado a partir dessa iniciativa,” disse.

Sylvia explica que há outra versão histórica, cantada nos cordéis de mestre Azulão, de que a feira foi surgindo ao longo da década de 40 a partir de um movimento de nordestinos que desembarcavam e ficavam acampados esperando um local para morar ou um trabalho.

“Como era o ponto final dos caminhões chamados de pau de arara e foi um momento de crescimento urbano muito acentuado, ali era um local de contratação de mão de obra para pedreiros, porteiros de edifício, que foram as ocupações tradicionais dos migrantes nordestinos nesse período. Teve algumas figuras, entre elas a do João Gordo, que teria iniciado esse comércio de produtos do nordeste para cá e daqui para o nordeste, porque o mesmo caminhão que vinha trazendo gêneros e pessoas, ele costumava voltar vazio e levava produtos daqui para o nordeste,” acrescentou.

Seja qual for a versão, a historiadora destaca que o local foi um espaço importante de sociabilidade dessa comunidade migrante, bem como de preservação dos costumes, que permanece até hoje. O músico e radialista José Sergival, que comanda há 5 anos o programa Puxa o Fole na Rádio Nacional do Rio, complementa que, após o início espontâneo, a Feira de São Cristóvão se tornou um ponto de referência das tradições nordestinas, frequentado não só pelos nascidos na região nordeste, bem como por turistas e apreciadores da culinária e da cultura.

“Agora vende artesanato, os artistas se apresentam, não só o forró pé de serra, mas quando as companhias culturais vêm para cá, esquetes de teatro, grupos folclóricos, quadrilhas juninas, bumba meu boi, frevo, a referência é a Feira de São Cristóvão, um local que eles querem ir se apresentar porque sabem que é um ambiente propício à cultura nordestina”.

Sergipano que mora no Rio há 10 anos, Sergival costuma ir à feira para matar a saudade da comida típica de sua região. “Lá dentro tem também as barracas de feira livre, então nós que somos nordestinos e os cariocas que gostam da culinária nordestina podem adquirir produtos in natura. A gente compra lá o feijão-de-corda, a carne de sol, o queijo coalho, a manteiga de garrafa, uma série de coisas para fazer as refeições da nossa região. Assim a gente não sente tanta falta da culinária da nossa terra”.

Palco de nomes imortais da música brasileira, a Feira de São Cristóvão já recebeu Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro e ainda recebe ícones como Zé Ramalho, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Quinteto Violado e Maria Bethânia, que foi homenageada no local em junho pelos 50 anos de carreira. De acordo com o presidente da Feira, Helismar Leite, são quatro mini-palcos “que trabalham com forró tradicional” e dois palcos para música popular, “só não trabalhamos com funk, mas tem até reggae, sertanejo universitário, Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Martinho da Vila, somos a casa do carioca e temos que unir a cultura”.

Para o dia 18, ele adianta que a festa vai ser “arretada”. “O aniversário vai ser comemorado com bolo, muita festividade, nós vamos ter um show com a banda Forró Real, do Ceará. Estamos fazendo também um simpósio nordestino, onde estarão presentes várias personalidades de todos os estados, falando da cultura nordestina, muitos repentistas, escritores. Serão três dias de palestra discutindo a cultura nordestina aqui no Rio de Janeiro, 17, 18 e 19 de setembro”.

Em 2003 a feira foi transferida para o local fechado que ocupa hoje, dentro de um pavilhão de exposições que foi reformado, e é administrada pela prefeitura. Helismar afirma que a feira recebe a mesma visitação que o Cristo Redentor, com cerca de 300 mil pessoas por mês.

“O importante é mandar um recado pro Brasil todo para que visite a feira e veja como ela é. A feira tem de tudo, tem artesanato, uma culinária maravilhosa, castanha, doce, bolo, pimenta, mel, cachaça, tapioca, carne de sol, queijo coalho. O que temos no nordeste nós temos sempre um pouco aqui na feira,” observou.