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O medo de ter medo

01/07/2015
O medo de ter medo

Estamos vivendo em tempo de medo. Medo de não poder pagar as contas. Medo de enfartar. Medo de não ser amado. Medo de não garantir o futuro dos filhos. Medo de perder os bens materiais para os credores. Medo de não ter condições de estudar e de atualizar o saber. Medo de contrair uma doença crônica ou uma enfermidade incurável. Medo de sofrer. Aliás, cada de um de nós gostaria de não ter medo. Mas a experiência nos ensina que a nossa vida pode mudar num instante. Racionalmente sabemos que a vida poderá ter outro destino. Mas, mesmo assim, com fé e com esperança, traçamos planos e imaginamos uma vida que não comporta espaços para os acontecimentos tenebrosos. 

No entanto, a vida é cheia de imprevistos e o medo nos pega de surpresa. Não marca hora, nem manda aviso. Aparece, pronto! O medo, como a morte, é semelhante ao tempo: “não pára no porto, não apita na curva, não espera ninguém!” Tanto o tempo quanto o medo são fatos consumados, atos inexoráveis. O enigma que envolve o Medo e a Morte é o mesmo que cerca a Vida. Não há explicação! É mistério que restringe à sabedoria do Ser Supremo e Criador. Desde o nascer, o medo e a morte nos assustam. Vida, Medo e Morte é uma convivência cheia de conflitos. Pouco se sabe por que se vive; por que se amedronta e por que se morre. Nada se sabe sobre esses fenômenos. A ciência não responde a este questionamento. O único caminho que nos dá uma tranqüilidade aparente está no âmbito da fé.
O temor da morte é intrínseco à vontade de viver. Até Jesus Cristo no calvário, na hora da agonia, quando as nuvens encobriram o sol e o céu se tornou negro e tudo ficou escuro, temeu a morte: “Pai, afasta de mim este cálice!”- disse o Filho ao Pai. E instantes depois, lançou um grito: “Pai, em tuas mãos, entrego o meu espírito…”
Ora, o medo é uma força natural, comum a todos os humanos, diferente apenas na forma e no sintoma como se apresenta em cada pessoa. Em todos nós existem medos, criados ou adquiridos, que integram o nosso intelecto. O medo faz parte da natureza humana e tem como função básica nos proteger, por mais incrível que isso possa parecer. Quanto ao medo, escreveu Emílio Mira (1945), “o medo é psicologicamente um processo de autoconservação e defesa que se manifesta estancando o curso vital, ou retrocedendo este”.
De acordo com a psicologia, o medo é uma interrupção súbita do processo de racionalização. O medo tem a capacidade de interromper a ação mental. O medo, que é um emocional negativo, inibi a motivação e bloqueia a racionalidade. Mas, o fenômeno do medo possui suas vantagens: faz inibir o astuto… faz frear o arrogante.
Nossa cultura regional não nos preparou para lidar com o medo, como também não nos ensinou a evitar o medo. É por isso que reagimos mal diante do medo, porque fomos mal preparados: aprendemos a temer a Deus, quando deveríamos simplesmente amar a Deus. Não há qualquer razão para temer um Pai bom e justo, mas, tão somente, respeitá-lo, amá-lo, venerá-lo e adorá-lo. Isso seria mais fácil e menos traumatizante. Mas, para que isso ocorra, é preciso educar o homem na fé, na esperança. Porém, como não sou psicanalista, não posso tratar do Medo patológico, gerado pela fobia, pelos transtornos da ansiedade, com seus pânicos e suas ações violentas contra o psiquismo, porque essa matéria é técnica e exige conhecimentos especializados. Estou falando do medo rotineiro que nos assusta todos os dias, motivado pela incerteza, pelo desconhecimento da verdade, pela violência humana, pela insegurança sócio-econômica, pela intolerância religiosa, que perturbam todas as classes sociais.
Não estou falando do medo da punição, porque esse já não existe hoje, em face da impunidade dos delinquentes. Há outros medos que nos apavoram, tais como aqueles relacionados com as emoções: medo do erro médico, medo do insucesso, medo da separação dos amantes; medo, simplesmente medo, sem grandes traumas no psiquismo. Por exemplo, na depressão profunda, o medo é uma doença que deve ser tratada pela religião (metafísica) e pela medicina (aspecto físico), para se evitar danos irreparáveis à mente e ao corpo. Se sempre agimos com Medo é porque não agimos com Fé, pois o medo nos faz enxergar a derrota ao invés da vitória. É preciso orientar a nossa Vida Sem Medo… Pensemos nisso! Por hoje é só.