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“A mulher não deve esquecer de cuidar de si própria”, diz secretária de Saúde

08/03/2015
“A mulher não deve esquecer de cuidar de si própria”, diz secretária de Saúde
Para secretária, presença feminina no mercado de trabalho, política ou cargos administrativos é consequência da competência das mulheres (Foto: Carla Cleto)

Para secretária, presença feminina no mercado de trabalho, política ou cargos administrativos é consequência da competência das mulheres
(Foto: Carla Cleto)

    Como tantas outras mulheres que desempenham múltiplas funções, precede ao nome de Rozangela Maria de Almeida Fernandes Wyszomirska primeiramente o título de professora. É assim como ela é chamada entre os seus colegas da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e da Universidade de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal). Nesta universidade, era reitora desde 2009, antes de ser nomeada como titular da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), em 2 de janeiro de 2015.
Neste domingo (8 de março), Dia Internacional da Mulher, a médica gastroenterologista Rozangela Wyszomirska defende o ‘não’ ao preconceito, e o ‘sim’ à expectativa por uma sociedade democrática, justa, comprometida com o bem estar social, a educação, a segurança  e a saúde de qualidade. Para isso, ela tem muito trabalho a fazer, porque, segundo a própria gestora estadual, “os indicadores de saúde no estado, em relação à mulher, não são bons”. No entanto, o desafio de assumir a Sesau veio junto com o desejo de poder contribuir com a melhoria na oferta de saúde para o povo alagoano.
A pesquisadora de esquistossomose mansoni e educação em saúde amplia, agora no Governo do Estado, o seu olhar para as necessidades da população alagoana. Em especial para as mulheres, Rozangela pontua que, sem dúvida nenhuma, ela é sobrecarregada, com a multiplicidade de papéis que exerce, mas não é por isso que a mulher deve esquecer-se de cuidar de si própria.
Nesta entrevista, a professora, médica, reitora e atual gestora da Sesau mostra-se como todas as outras mulheres, uma mãe apaixonada, de poucos e valiosos amigos, que acredita na democracia, na liberdade de imprensa e que a saída para o desenvolvimento sustentável do Brasil é a educação e a oferta de melhores condições de saúde para a população.
A mulher está no mercado de trabalho, mas não abandonou as lides da casa, assumindo assim muitos papéis. Quem é, então, a médica, professora, reitora e atual secretária de Estado da Saúde Rozangela Wyszomirska, quando ela não está no ambiente de trabalho?
Igual a de tantas outras mulheres que desempenham múltiplas funções no mundo, independente da raça, classe social, ou grau de escolaridade e que amam, choram suas perdas e dores. Criei três filhos (Djalma, hoje casado com Jeanne; Ignez; e Lygia, hoje casada com Jorel), a quem amo apaixonadamente e que adoro conviver. Sinto saudade e dor irreparável de ter me separado de minha filha Ignez, que está em uma estrela iluminada. Tenho poucos e valiosos amigos. Gosto de ficar em casa, ir para o cinema, ler, viajar. Cuido da casa, vou ao supermercado. Não sei nada sobre moda, rituais de beleza e coisas do gênero. Adoro cuidar de plantas. Acredito na democracia, na liberdade de imprensa e que a saída para o desenvolvimento sustentável do Brasil é a educação e oferta de melhores condições de saúde para a população.
Já sobre a sua atuação profissional, assumir a Secretaria de Estado da Saúde tem sido o maior desafio? Como foi aceitar esse convite de gerir uma das pastas mais importantes do governo?
Na profissão, como médica, enfrentamos desafios todo dia, ao nos depararmos com a dor do outro, a doença, a urgência, a decisão que tem que ser tomada diante do quadro clínico do paciente. Como gestora, esse é o maior desafio, sem dúvida. Aceitei o convite, com preocupação, porém com a esperança de poder contribuir com a melhoria na oferta de saúde para o povo alagoano.
A decisão de assumir a Sesau foi discutida entre colegas. E alguns deles passaram a fazer parte da equipe de gestão da Secretaria, que, em suma, é liderada por mulheres. Qual a atual importância delas na gestão pública?
Para a escolha da equipe, não utilizei o gênero como critério. Tanto que a equipe é composta por mulheres e por homens. Nunca aceitei ser tratada com discriminação como mulher, e, portanto não discrimino pessoas pelo gênero, opção sexual, cor, ou raça. O foco para a escolha foi o potencial de trabalho em cada área.
A luta das mulheres pelo espaço na política é antiga. Aos poucos, as mulheres foram conquistando cargos que, até então, eram exclusividade masculina. Por mais que a senhora tenha assumido a Sesau com o comprometimento mais técnico que político, as áreas se relacionam. Como a senhora enxerga a crescente participação da mulher na política?
Acho que é mais uma conquista das mulheres. Se somos maioria no Brasil, temos que estar presentes nas profissões, na arte, nos negócios, na gestão, tanto pública quanto privada, bem como na política.
Quando se observa o desequilíbrio das relações de gênero entre homens e mulheres, existe uma sobrecarga de trabalho sobre a mulher, devido aos muitos papeis que ela assume. Essa responsabilidade se dá ainda em relação aos cuidados com a saúde. É ela a responsável pelo autocuidado, assim como o dos filhos e do marido. Qual o valor desse papel para a saúde da população?
Sem dúvida nenhuma a mulher é sobrecarregada, com a multiplicidade de papéis. E muitas vezes, termina esquecendo de cuidar de si própria, bem como vem adquirindo doenças relacionadas ao stress, hábitos alimentares inadequados.
Para a filósofa Cecília Pires, “a mulher, talvez, até nem precisasse de um dia especial”, caso existisse um equilíbrio. Mas, no dia 08 de março, todos voltam o olhar para elas. Nesse sentido, qual a proposta da Saúde para as mulheres? Como o Estado enxerga na mulher a possibilidade (ou a necessidade) de melhoria dos indicadores da saúde?
Os indicadores de saúde no estado, em relação à mulher, não são bons. A mortalidade materna ainda não está em patamar aceitável, ainda vemos mulheres parindo seus filhos em condições inadequadas, muitas vezes vagando de maternidade em maternidade. A diabetes é outro problema, que deveria ser controlado na atenção básica. O câncer de mama e de útero cresce e em boa parte das vezes é diagnosticado tardiamente. Ou seja, temos muito, muito trabalho a fazer.
Apesar das muitas conquistas, a condição feminina ainda exige uma batalha constante contra o preconceito e a desigualdade. Anualmente, nesta data, corre-se o risco de alguns segmentos resumirem o Dia Internacional da Mulher como uma simples data comemorativa, com flores e cumprimentos, ao invés de realçá-lo como dia de conscientização. Qual é, então, a mensagem que a senhora gostaria de passar nesta data? O que torna o “8 de março” especial para as mulheres?
Significa um marco referencial, para lembrar à sociedade, ao mundo e a nós mesmas, o não ao preconceito, sob qualquer forma, ao tratamento desigual. E um sim, a expectativa por uma sociedade democrática, justa, comprometida com o bem estar social, a educação, a saúde de qualidade e segurança.