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Minhas inesquecíveis eleições

26/10/2014
Minhas inesquecíveis eleições

    Há exatamente 60 anos participei ativamente na minha primeira campanha eleitoral, tinha apenas 10 anos.  Minha casa na Avenida da Paz era uma espécie de Quartel General da oposição, os oposicionista tinham medo das loucuras do governador Silvestre Péricles, homem honesto, entretanto, arbitrário e violento, não admitia seu candidato Campos Teixeira perder a eleição para o ainda obscuro jornalista Arnon de Mello. Muitos oposicionistas foram vítimas de violência, surras, incêndios e outras de somenos importância, realizaram várias reuniões, onde se sentiam seguros, na casa do então coronel do Exército Mário Lima, meu pai.
Eu ficava excitadíssimos à noite ao chegarem os homens de terno branco, apenas uma mulher, elegante, bem falante, opiniões ouvidas por todos ( coisa rara no Nordeste na época), ela batia à máquina os ofícios, informações aos jornais, aprovados na reunião, era Dona Leda Collor de Mello, esposa de Arnon. Entre os oposicionistas, de terno branco, se destacavam, Oséas Cardoso, Carlos e Mário Gomes, Rui Palmeira, Freitas Cavalcanti.
Silvestre Péricles segurou o máximo possível com seu irmão General Góes Monteiro, a garantia de tropas federais na eleição em Alagoas. Com muita pressão política a ordem de deslocamento do 20º BC chegou às 2 horas da manhã do dia 3 de outubro, dia da eleição. A tropa estava de prontidão, o coronel Mário Lima agilizou com os caminhões do Exército e requisitou todo caminhão, camionete e carros que passassem em frente ao quartel garantindo a presença da  tropa do Exército no interior do Estado, acabando as tentativas de fraudes. O Exército Brasileiro mais uma vez cumpriu sua missão democrática. Foi surpreendente a votação na oposição, Arnon de Mello eleito governador e Getúlio Vargas, presidente, político gaúcho, populista, ditador totalitário durante 15 anos (1930-1945) governou com mão de ferro e uma constituição (a Polaca) tão severa quanto o AI-5, voltava ao poder pelo voto.
Foi meu batismo, nunca deixei de acompanhar e participar de eleição no Brasil. Em 1955 Juscelino Kubistchek foi eleito presidente da República, precisou da intervenção do Exército para tomar posse, o general Lott deu um contra golpe garantiu a constituição.  Cinco anos depois esse mesmo General Henrique Batista Dufles Teixeira Lott foi candidato contra Jânio Quadros, pela primeira vez votei para presidente, no General, homem honrado, honesto, nacionalista, entretanto, perdeu a eleição. Em agosto de 1961 Jânio Quadros renunciou a Presidência da República (bêbado, segundo testemunhas) provocando o maior caos político no Brasil, resultou no golpe de 1964 e uma ditadura de 21 anos. Fui testemunha participativa de todos os acontecimentos. Como tenente do Exército, servindo na cidade do Recife, apoiei o golpe naquele momento. Vieram em seguida quatro presidentes generais: Castello Branco, Costa e Silva, Emílio Médici, Ernesto Geisel e Figueiredo.
Só em 1985 por eleição indireta um civil, Sarney, assumiu a presidência. Contudo no ano da glória, 1989, retornou a eleição direta para Presidente da República. Em pleito disputadíssimo o governador de Alagoas, Fernando Collor de Mello ganhou do emergente político vindo de bases populares, Lula da Silva.  Em 1994, nova eleição, Lula perdeu do intelectual sociólogo Fernando Henrique Cardoso, reeleito em 1998 contra novamente Lula da Silva. Em 2002, a esquerda na poder, pela quarta vez consecutiva candidato, Lula foi eleito. Em 2006 o Brasil tinha mais um presidente reeleito, Lula. Em 2010 um grupo pressionou para aprovar o terceiro mandato no Congresso, entretanto, o espírito democrático brasileiro prevaleceu, não houve a segunda reeleição. Lula apresentou a candidata Dilma Rousseff que tornou-se a primeira mulher presidente do Brasil.
Nesse ano sagrado de 2014, temos uma eleição acirrada no segundo turno. De um lado a presidente Dilma Rousseff tenta a reeleição, do outro o jovem ex governador de Minas Gerais, Aécio Neves, tornou-se um forte candidato, as pesquisas dão empate técnico, ninguém pode prever o resultado, o povo diz sabiamente, ninguém sabe o que pode sair da cabeça de um juiz ou das urnas. Na verdade depois de mais de três meses de campanha, com muita marquetagem e menos informações, “alia jacta est”, “a sorte está lançada”, como diriam os romanos.  Que Deus abençoe o Brasil.