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122 anos de Graciliano: Um mergulho na história do escritor e político

27/10/2014
122 anos de Graciliano: Um mergulho na história do escritor e político

graciliano_ramosAndar pelas ruas de Palmeira dos Índios é fazer um mergulho na vida e na obra de Graciliano Ramos. Na entrada da cidade, uma escultura do “Mestre Graça” dá as boas-vindas aos visitantes. A fachada da sede da Prefeitura Municipal continua a mesma da época em que Graciliano Ramos foi prefeito. Até o ponto de táxi São Bernardo, localizado no Centro da cidade, faz lembrar uma das obras do escritor.

Aliás, São Bernardo é considerada por muitos a melhor obra de Graciliano Ramos. Os primeiros capítulos do livro foram escritos na sacristia da Igreja Matriz Nossa Senhora do Amparo, que continua em funcionamento até hoje. O livro foi finalizado na casa em que funciona o museu.

{3f820cf661111a3c81e60c24288c175e}_ivan_barrosO escritor e estudioso do “mestre Graça” Ivan Barros não poupa elogios ao falar das várias facetas de Graciliano, o prefeito, o jornalista, o escritor e o homem apaixonado e boêmio. Ele é um dos que destacam São Bernado como a obra-prima do autor. “Graciliano foi original e soube levar para as obras dele não somente o drama do Nordeste, mas a angústia do ser humano”, ressalta.

Ivan possui relíquias sobre Graciliano Ramos que ele garante que ninguém mais tem. São fotografias originais do “mestre Graça” na época em que foi prefeito de Palmeira, imagens dele ainda jovem e fotos das duas mulheres que foram casadas com o escritor, Maria Augusta e Heloísa.

Ivan também guarda com muito zelo a coleção completa do jornal mensal O Índio, do qual Graciliano Ramos era colaborador e onde escrevia duas colunas, a “Garranchos” e a “Fatos e Fitas”. O curioso é que nenhuma delas possui a autoria expressa do mestre Graça, que na época assinava seus textos com pseudônimos.

“Essa coleção eu consegui no cartório do meu pai. Como eu gostava muito de Graciliano Ramos, um dia ele me chamou e me deu de presente todos os exemplares do jornal, que circulou por três anos, de 1921 a 1923”, conta Ivan.

O estudioso enfatiza as ações de Graciliano como prefeito e diz que ele colocou ordem na cidade. Retirando das ruas os animais que viviam soltos e tudo o mais que deixava as ruas sujas.

As ações implantadas por Graciliano no município de Palmeira dos Índios podem ser conferidas nos famosos relatórios preparados por ele e publicados no Diário Oficial do Estado como forma de prestar contas dos gastos efetuados. Em um trecho, publicado no dia 24 de janeiro de 1929, após um ano como prefeito, Graciliano Ramos diz que trabalhou para colocar ordem na cidade.

Uma das obras de infraestrutura realizadas na época em que Graciliano era prefeito continua a ser utilizada até hoje. Foi no mandato dele que foi estruturada a estrada de Palmeira dos Índios a Santana do Ipanema, onde hoje é a BR-316. De acordo com um dos relatórios do mestre Graça, as obras na estrada foram iniciadas em janeiro de 1929 e, um ano depois, estavam prontos 25 quilômetros.

“Gastei 26:817$980”, prestou contas Graciliano. A moeda vigente à época era o réis.

O lado familiar e sentimental do escritor alagoano chama a atenção de Ivan, que destaca ter sido Maria Augusta, o grande amor da vida dele. Ela morreu de complicações no parto, após dar à luz a filha que acabou ganhando o nome da mãe.

O mestre Graça teve quatro filhos com Maria Augusta e depois que se casou pela segunda vez, com Heloísa, teve outros quatro. Dos oito, apenas uma está viva, Luiza Ramos.

Além de morar em Quebrangulo e Palmeira dos Índios, Graciliano Ramos também morou nas cidades de Viçosa e Maceió, antes de se mudar definitivamente para o Rio de Janeiro, onde viveu até a morte.

Graciliano colocou Quebrangulo no mapa

Escritor que nasceu e viveu apenas dois anos na cidade alagoana atrai turistas e enche de orgulho os conterrâneos. Em 27 de outubro de 1892, nascia, no município alagoano de Quebrangulo um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos: Graciliano Ramos. Hoje, exatamente 122 anos depois, o casarão azul de número 54, localizado em frente à praça Dr. Getúlio Vargas e ao lado da Prefeitura Municipal, é ponto de referência na cidade. Foi lá que o autor dos livros que já foram traduzidos em 32 idiomas e lidos em 80 países morou e deu os primeiros passos. É lá que começa a história do Mestre Graça no interior de Alagoas.

Graciliano morou com a família em Quebrangulo pouco mais de dois anos, um período curto, mas suficiente para encher de orgulho muitos de seus conterrâneos. Na cidade, a banda musical e equipamentos como a biblioteca municipal e o complexo cultural carregam o nome do escritor, contribuindo para que as novas gerações entendam a importante contribuição dele para a literatura mundial.

Uma praça que foi construída na parte lateral do prédio da Prefeitura também foi batizada de Graciliano Ramos. O Museu Municipal não leva o nome do autor, mas dedica grande parte do acervo a ele. O local expõe fotografias, frases e livros do escritor. Graciliano Ramos é o filho mais ilustre do município. Onde uma obra dele chega, chega também o nome de Quebrangulo.

Desde o nascimento do Mestre Graça até hoje, muita coisa mudou. São 122 anos de história. O casarão que pertenceu à família Ramos, por exemplo, foi reformado pelo atual morador e não possui mais as mesmas características arquitetônicas da época de Graciliano. A casa ainda não foi tombada, e a fachada rica em detalhes não existe mais, mas desconfia-se que duas janelas antigas que ficam na cozinha do imóvel e têm vista para o quintal testemunharam os primeiros anos de vida do escritor alagoano. Pelo menos é o que conta a dona Gerusa do Nascimento, que há 39 anos trabalha no local.

“A casa foi toda modificada, mas essas duas janelas são muito antigas, devem ter continuado depois da reforma”, afirma. Segundo ela, pessoas de todas as partes do mundo vão até Quebrangulo somente para conhecer a casa onde Graciliano Ramos nasceu. “Têm dias em que chegam ônibus cheios de gente para olhar essa casa”, completa.

Em 2013, a fundação Graciliano Ramos, que teve a sede atingida durante as enchentes de 2010, deve ser reativada. Lá, professores, artistas e outras pessoas ligadas à cultura do município vão ministrar cursos profissionalizantes e aulas de teatro, música e pintura gratuitamente à população. De acordo com o artista plástico Edmilson Oliveira, apenas duas fundações no mundo foram batizadas com o nome do Mestre Graça. Uma fica nos Estados Unidos e a outra, no Brasil, é justamente a de Quebrangulo.

“A fundação funcionou por dois anos até ser atingida pelas enchentes. Agora, estamos tentando reativá-la no início do próximo ano”, conta Edmilson, ressaltando que a filha do escritor alagoano, Luiza Ramos, que mora em Salvador – BA, ficou muito feliz com a iniciativa da fundação e doou ao acervo a coleção completa dos livros do pai.

Fazer um passeio por Quebrangulo é dar início a uma viagem que tem continuação no município vizinho de Palmeira dos Índios, onde Graciliano Ramos não só morou, mas também assumiu o cargo de chefe do Executivo municipal, ganhando notoriedade com os relatórios escritos por ele e publicados no Diário Oficial do Estado, onde eram detalhados todos os gastos efetuados pela prefeitura. Em 1962, esses documentos foram reunidos no Livro Viventes das Alagoas.

Palmeira dos Índios

A família Ramos mudou-se para Palmeira dos Índios em 1910, quando Graciliano já era um jovem adulto. Na casa em que ele morou depois que casou, funciona hoje o museu que guarda objetos pessoais, documentos, manuscritos, fotografias e outras tantas relíquias que ajudam a contar a história de um dos mais importantes escritores brasileiros. Na Casa Museu Graciliano Ramos é possível encontrar, por exemplo, o livro original de registro de contas da prefeitura na época em que o mestre Graça foi prefeito da cidade. A bela caligrafia do escritor e o notório cuidado com a arrumação das palavras e dos números no papel chegam a impressionar.

A antiga máquina de escrever Remington, que pertenciam a Graciliano, também está exposta no local, mas por incrível que pareça, ele dela pouco usufruiu. Gostava de escrever os textos à mão, com lápis e caneta-tinteiro, porque assim ficava mais fácil de fazer correções e rasuras. Objetos pessoais como o relógio, a lâmina de barbear, roupas e uma capa de couro para livro que teria sido um presente do escritor Jorge Amado também fazem parte do acervo.

São muitas também as cópias de fotografias expostas no museu. Elas trazem não só a figura do escritor, mas de pessoas que fizeram parte da vida dele. Uma delas mostra o escritor colombiano Gabriel Garcia Marquez ao lado da segunda esposa de Graciliano, Heloísa. Com todo esse acervo – grande parte dele doado pela filha do mestre Graça -, o museu atraiu mais de 6 mil visitantes somente no ano passado.

A poucos metros de lá, outros dois imóveis também estão ligados diretamente à história de Graciliano Ramos, Um deles foi a primeira casa onde a família Ramos morou assim que se mudou para Palmeira dos Índios. A outra é onde mora, atualmente, uma sobrinha do escritor, filha de Heitor Ramos, que era irmão do mestre Graça.