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Comissão da Verdade prossegue com depoimentos de vítimas da ditadura militar

27/11/2013
Comissão da Verdade prossegue com depoimentos de vítimas da ditadura militar
Comissão da Verdade ouviu depoimentos das viúva de Jayme Miranda e do advogado Eliezer Lira

Comissão da Verdade ouviu depoimentos das viúva de Jayme Miranda e do advogado Eliezer Lira

Membros da Comissão Estadual da Memória e Verdade Jayme Miranda ouviram nesta terça-feira (26) o depoimento da cabeleireira aposentada Elza Rocha de Miranda, viúva do jornalista e dirigente do Partido Comunista Brasileiro (PCB), Jayme Amorim de Miranda. O advogado, contador e militante do PCB, Eliezer Lira, também foi ouvido nesta terça.
Os trabalhos foram conduzidos pelo presidente da comissão, cônego Manoel Henrique, com a participação do procurador da República aposentado Delson Lyra da Fonseca; o advogado Everaldo Bezerra Patriota; a professora universitária Maria Alba Correia da Silva; e a economista e presa política durante a Ditadura Militar, Maria Yvone Ribeiro.
Em seu pronunciamento, a senhora Elza Rocha de Miranda disse que seu marido desapareceu em 5 de fevereiro de 1975 na cidade do Rio de Janeiro. “Todos nós ficamos muito apreensivos porque foi num dia em que estávamos com os sobrinhos de Maceió e ele (Jaime) me pediu para fazer um jantar para os meninos. Nós esperamos por ele, que não apareceu. Aquilo foi muito deprimente para todo mundo. Ficamos muitos tristes. Naquele mesmo dia, mexendo nas coisas dele, vi que o Jaime tinha um encontro com uma pessoa, se não me engano, no bairro de Piedade no Rio de Janeiro. Neste encontro, deveria encontrar-se com um cidadão que iria preparar um documento para ele, pois precisava sair da cidade devido problemas na gráfica. Ele não podia ficar mais ali”, relatou.
Dona Elza contou que depois de um dia de espera procurou os advogados para buscar notícias de seu marido. “A gente esperou e ele não chegou. Então, a gente calculou que houve algum problema. Esperamos uma dia depois. E como não tinha nada a fazer, nós procuramos os advogados. Procurei o Baêta que era presidente da OAB e o doutor Humberto Jansey. Escreveram cartas para políticos e muitos respondiam dizendo que o Jaime estava na União Soviética. Mas, na realidade, eu sabia que não e sim no Brasil”, assinalou.
Segundo dona Elza, após ficar sem notícias do marido, resolveu voltar para Maceió. “Fui embora para Maceió porque, inclusive, os parentes do Rio de Janeiro já não nos recebiam. Eu não podia dá meu telefone para ninguém. E fiquei só com quatro meninos passando uma situação muito difícil. Vim para Maceió e estou esperando até hoje que ele (Jaime) apareça ou possa encontrar o corpo dele para enterrá-lo. Toda família quer, os filhos, os netos Será possível isso? Eu pergunto aos senhores”, desabafou.
De acordo com o neto da dona Elza, Thiago Miranda, presente no depoimento, há uma testemunha, o senhor Marivel Chaves, ex-sargento do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) de São Paulo, o qual disse que o Jaime Miranda foi levado para um centro de tortura em Avaré-SP onde foi torturado, morto, seu corpo foi esquartejado e jogado no rio de Avaré.

Elieser Lira
Já o advogado, contador e ex-bancário do Banco do Nordeste Brasil, Elieser Lira, é ex-preso político e ex-dirigente do Instituto de Aposentadoria dos Bancários (IAPB), recordou que sua prisão ocorreu 20 de abril de 1964, em Recife (PE) e foi recambiado para Alagoas.
Eliese fez um relato sobre o período que passou em Alagoas, Pernambuco e São Paulo. “A burguesia sabe o que quer. Ela quer dinheiro. A burguesia se aproveitou do golpe militar de 64. Só que a burguesia também contribuía para o Partidão”, frisou.
Ele disse que desde os 10 anos seu pai o levava para as reuniões do partido. “Após uma dessas reuniões nós tiramos fotos na frente do PCB. E eu tirei uma foto com o retrato do Carlos Prestes, cavaleiro da esperança. Minha mãe religiosa ficou apavorada. Quando o partido foi posto na ilegalidade eu vi muitos companheiros serem presos e torturados. Em tinha 12 anos. Dois anos depois, mais ou menos, apareceu um colega de ginásio que disse que me reconhecida na foto da frente do partido com o retrato do Carlos Prestes. E eu, 12 anos, tive que sair pela tangente”, contou ele.
Elieser também relatou que, em 1947, foi expulso de escola particular. “A minha vida de comunista perseguido e participação política começou muito cedo”, destacou.